São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Porque compramos a Perdigão

EDSON MACHADO MONTEIRO

A principal tarefa dos fundos de pensão é garantir o pagamento de pensões e aposentadorias a seus associados. São cerca de 10 milhões de brasileiros –participantes e seus respectivos dependentes– que não abrem mão do direito de fiscalizar a aplicação dos seus recursos.
Todos sabem que os fundos não sobreviveriam apenas com o que arrecadam de seus associados; é preciso fazer esse dinheiro "crescer". Além de fugir da inflação, é preciso fazer aplicações rentáveis, capazes de permitir que os compromissos assumidos com os participantes sejam cumpridos.
Nos Estados Unidos, país mais rico e poderoso do mundo –pátria da chamada "economia de mercado"– os 713 mil fundos de pensão existentes aplicam seus recursos em ações de grandes empresas. É um investimento seguro e que promove distribuição de renda, uma vez que os trabalhadores associados dos fundos passam também a ser donos dessas empresas.
Lá o patrimônio dos fundos já ultrapassa os US$ 4 trilhões – 50% do PIB norte-americano. Aqui, existem 298 fundos (dos quais 188 patrocinados por empresas privadas) com um patrimônio que não chega a representar 5% do PIB.
Por tudo isso é que ficamos espantados com os questionamentos sobre o investimento feito por um grupo de fundos de pensão em ações da Perdigão; um investimento seguro, numa empresa que depois de saneada financeiramente recuperará seu lugar no mercado –a exemplo do que ocorreu com a Acesita.
A aquisição da Perdigão não difere em nada das operações feitas diariamente pelos fundos. Uma compra de ações transparente, dentro dos limites legais, porém –desta vez–, não feita nas Bolsas de Valores, e sim diretamente com o dono.
Efetuado o negócio, os fundos, através de seus representantes no Conselho de Administração, vão nomear uma administração profissional para conduzir os negócios da empresa, assim como fizeram na Acesita. Não é nosso propósito administrar outras empresas que não sejam os nossos próprios fundos.
É preciso ficar claro que a aquisição da Perdigão foi uma operação séria, sustentada em laudos de auditores internacionais, que puderam fazer uma análise completa da empresa e ainda estudar suas perspectivas de lucro e crescimento. Como se vê, os fundos não compraram dívidas, muito menos um "elefante branco".
Ao contrário do que afirmam os críticos da operação, os fundos não querem desprezar sua missão precípua e transformarem-se em administradores de empresas. Os fundos querem apenas aplicar bem o patrimônio de seus associados, e o mercado acionário –como se sabe– sempre foi um bom investimento.
Mais uma vez os fundos de pensão fizeram um ótimo negócio, realizado a bom preço e com a segurança necessária. Adquiriram ações de uma empresa que, saneada, voltará a ocupar lugar de destaque na economia nacional. Ressalte-se que as críticas não são feitas por nenhum dos milhares de associados dos fundos envolvidos na negociação. Estes, ao contrário, estão muito satisfeitos em saber que o patrimônio garantidor do seu descanso está sendo aplicado com transparência e segurança.

Texto Anterior: Caos planejado
Próximo Texto: Movimentação bate recorde histórico no mês passado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.