São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1994
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"Mussolini e Eu" engana o público

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Mussolini e Eu
Direção: Alberto Negrin
Produção: Itália/França/Espanha, 1985
Elenco: Anthony Hopkins (Galeazzo Ciano), Bob Hoskins (Benito Mussolini), Susan Sarandon (Edda Ciano), Annie Griardot (Rachele Mussolini), Kurt Kraan (Adolf Hitler)
Onde: Paulista 1

"Mussolini e Eu", que começa a ser exibido hoje em São Paulo, engana o público. Já no título. O tema central não é a vida do ditador italiano Benito Mussolini, mas um momento particular da história no qual ele era um dos atores.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) acabou há poucos dias. Os últimos soldados dos EUA, do Reino Unido e da França que deixaram Berlim, capital da Alemanha reunificada, marcaram o fim de um massacre que custou mais de 60 milhões de mortos, a memória de um genocídio, duas bombas atômicas e prejuízos materiais de vários trilhões (trilhões!) de dólares.
Há quase dez anos, uma série de canais de TV da Europa resolveu retomar uma das tramas dessa história. Foram buscar os diários de um personagem da política italiana da época, o conde Galeazzo Ciano. Sendo uma produção transnacional, contrataram atores internacionais conhecidos.
Puseram Bob Hoskins no papel de Mussolini. Está certo, a fama histriônica do ditador não chega a ser novidade, mas o histrionismo em política não tem nada de engraçado. Hoskins é um especialista em comédias, tentando parecer um ditador. Rir de ditadores?
Ciano (Hopkins) era genro de Mussolini, casado com Edda. Foi um dos líderes do fascismo, ministro das Relações Exteriores da Itália e um dos que se insurgiram contra seu sogro em 1943.
A insurreição do Grande Conselho fascista, órgão máximo do partido, derrubou Mussolini, que foi preso. Os alemães o libertaram. A Itália foi dividida em duas partes, uma pró-aliada, outra pró-nazi. A guerra civil durou dois anos.
Ciano acabou fuzilado. O filme passa a maior parte mostrando os esforços de sua mulher para salvá-lo, com a cumplicidade de uma espiã alemã, que queria os diários do ex-ministro. Mussolini morreria pouco depois.
Há bons filmes sobre este momento. "Mussolini e Eu" não é um deles. É impreciso, confuso, ridículo. Para mostrar a decadência do fascismo era bem melhor reprisar "Os 120 dias de Saló", de Pier Paolo Pasolini. Seriados malfeitos são cada vez mais dispensáveis.

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