São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1994
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PMs brasileiros relatam guerra na Croácia

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Os cinco policiais militares de Pernambuco que integraram a força de paz da ONU na Croácia voltaram ontem a Recife.
O grupo ficou um ano na região, atuando basicamente na fiscalização da polícia local. Sua missão era evitar discriminações e desrespeito aos direitos humanos.
Primeira república a separar-se da ex-Iugoslávia, em 1990, a Croácia enfrenta desde então uma guerra com os sérvios, que agora controlam 30% do país.
A ONU mantém uma força de paz internacional no país para monitorar o cessar-fogo entre o governo e os rebeldes sérvios.
Os três tenentes e dois sargentos brasileiros passaram por situações de guerra, mas nenhum deles chegou a ser ferido.
Na próxima segunda-feira, os capitães da PM de Pernambuco Sósthenes de Lemos Júnior, 27, e Eduardo Santana, 30, seguirão para a Croácia para substituir os que voltaram. Passarão a ser dez os policiais brasileiros nas forças de paz da ONU na região.
Eles viajarão para o Rio e de lá para Zurique (Suíça) e em seguida a Zagreb, na Croácia.
A partir de outubro, outros dois policiais-militares pernambucanos –entre eles uma mulher– integrarão a força de paz da ONU na Guatemala.
A presença dos policiais foi solicitada pela ONU através do Ministério das Relações Exteriores e da Inspetoria Geral das Polícias Militares, órgão do Ministério do Exército.
O sargento Emerson Lima, 36, foi o único brasileiro da força de paz da ONU na ex-Iugoslávia a passar sete meses na Bósnia.
Ele não acredita no fim dos conflitos na região e teme que a situação se agrave caso os EUA suspendam o embargo ao fornecimento de armas à Bósnia.
Washington acha que o embargo, imposto pela ONU, impede os muçulmanos de se defenderem dos sérvios. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Qual foi a pior situação que você passou na viagem?
Emerson Lima - Na Bósnia tínhamos uma situação de bombardeio quase que diária. Éramos obrigados a tomar cuidado com as minas e com os franco-atiradores, que disparam até contra os aviões da ONU. Atiraram duas vezes na minha patrulha. Doze espanhóis que trabalhavam na mesma área minha morreram.
Folha - Como você vê a situação na região?
Lima- É uma situação delicada. Os Estados Unidos podem suspender o embargo de armas à Bósnia em 15 de outubro. Se isso acontecer o conflito vai se generalizar, porque vamos ter os três grupos étnicos armados.
Folha - Dá para prever o que vai acontecer lá?
Lima - Na minha opinião, mais guerra no futuro. Vi milhares de mortos, vi cidades-fantasmas e um ódio muito grande das pessoas que perderam tudo. É muito difícil convencer uma pessoa dessas a esquecer e a perdoar.
Folha - Qual era o trabalho dos brasileiros na força de paz da ONU?
Lima - Basicamente monitorar a polícia local, para evitar discriminações e abusos dos direitos humanos. Nós trabalhávamos numa área muito delicada, que tinha duas tropas de mercenários, criminosos do mundo todo que vão tirar proveito da guerra.
Folha - Você esteve também em Sarajevo, capital da Bósnia...
Lima - Passei dez dias em Sarajevo. Era tiro o dia inteiro, a noite toda. Tinha que andar na avenida principal no mínimo a 120 km/h, para evitar que algum franco-atirador acertasse no carro.

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