São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1994
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Privatizar não é privilégio

São inúmeras as experiências bem-sucedidas na área das desestatizações em todo o mundo neste fim de século. Só o desconhecimento dessa realidade ou um sectarismo mesquinho são incapazes de enxergar o imperativo de privatizações na economia brasileira.
O combate ao desperdício, às injunções políticas no cotidiano das empresas, a busca enfim da racionalidade e eficiência econômicas são objetivos que encontram terreno fértil para vivificar quando não se tem a ingerência do Estado.
Cobra-se muito da esfera federal avanços no programa de privatizações. De fato, o que governo federal fez até agora no campo da desestatização é insuficiente para colocar, de maneira inequívoca, o Estado brasileiro no caminho da modernização e do fim dos desperdícios hoje correntes. As cobranças nesse sentido, é evidente, precisam persistir e adensar-se.
Mas tem-se relegado a segundo plano o que seria da competência de Estados e municípios na área da privatização. Apesar de algumas declarações de boa intenção de alguns governadores, prefeitos e candidatos, o resultados obtidos até agora não são nada encorajadores.
O que se vê no âmbito regional são iniciativas isoladas, incapazes de sinalizar a desestatização como uma determinação programática, com o fim último de desonerar o contribuinte e premiar com melhores serviços os cidadãos em geral.
Algumas vertentes políticas ainda hoje enxergam as privatizações como um verdadeiro tabu. O debate sobre as empresas estatais muitas vezes é encoberto por preconceitos e interesses corporativos.
Enxugar o Estado é um desafio à sociedade brasileira que envolve todos o níveis da administração. O vazio em que na maioria das vezes os debates políticos regionais caem poderia ser preenchido ao menos em parte com essa preocupação. Privatizar não é privilégio exclusivo do Palácio do Planalto, mas uma necessidade premente em todas as esferas de governo.
A crise brasileira há muito está a exigir coragem e determinação dos homens públicos. Não se pode ignorar, sob pena de se perder o trem da história, os grandes buracos orçamentários provocados pela ação do governo nos setores em que a presença do Estado não se justifica.

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