São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente eleito assume em dia de ressaca

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Será que alguém poderia me dizer quem foi o Schopenhauer, o Graham Bell, o Aristóteles, o Thomas Edison que teve a infelicidade de escolher 1º de janeiro de 1995 como o dia em que o presidente eleito do Brasil assume o cargo?
Que a Constituinte é uma enorme colcha de retalhos, a gente está cansado de saber. Agora, depois de tantos estragos, que a revisão constitucional venha a arruinar também o Réveillon de 1995 de uma pá de pilotos de jatinho particular, dos garçons do Planalto, dos Dragões da Independência, da Esquadrilha da Fumaça, dos correspondentes estrangeiros, daqueles santos em pele de usineiro, empreiteiro e banqueiro e de todos os papagaios de político que disputam à tapa convites para a posse, também já é demais. Só pode ser piada.
Note que a Erundina e o Maluf também foram submetidos a essa provação quando assumiram a Prefeitura de São Paulo e, em consequência da sábia escolha, só Deus sabe quantos faxineiros do Ibirapuera e do Parque Dom Pedro foram privados de assistir à queima de fogos no Ano Novo da avenida Paulista.
Fernando Henrique andou esperneando contra a desastrada escolha da data e tenta mudar a posse para o primeiro dia útil do ano.
Ou seja, em se tratando do Brasil, se conseguir fazer com que a emenda sobre a mudança do dia da posse passe pela Câmara, pelo Senado, volte a passar pela Câmara e depois seja aprovada pelo presidente Itamar, Fernando Henrique espera tomar posse na quarta-feira de cinzas, o já famoso primeiro dia útil do ano tapuia. É isso?
Já imaginou o mau humor dos chefes de Estado convidados pelo Itamaraty para assistir à cerimônia de investidura do novo presidente no Palácio do Planalto?
Tome, por exemplo, o urso Boris Ieltsin, que, segundo dizem, é chegadão em uma manguaça. Já pensou o estrago que o homem não é capaz de fazer no Eron Palace de Brasília?
O Congresso deveria resolver o problema usando um toque de criatividade.
Alô, Iemanjá! Já que a posse no dia 1º parece inevitável, porque não transferir de uma vez a cerimônia do Planalto para a praia de Copacabana? Aposto que os chefes de Estado iam achar superpitoresco.

Texto Anterior: Perigos aguardam turistas de SP
Próximo Texto: Pour memoire; Dois em um; Helenismo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.