São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994 |
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Waters destrói o politicamente correto
EDUARDO SIMANTOB
O resultado é uma comédia daquelas que não se contentam com um mero sorriso. As reações ficam entre caretas de repúdio ao eventual "mau gosto" de Waters, ou então descambam em gargalhadas. Kathleen Turner brilha como a típica "wasp" (literalmente branco anglo-saxão protestante, designação para a classe mais conservadora dos EUA) que leva suas manias ao extremo, assassinando grotescamente seus desafetos. Grotesco é talvez o melhor adjetivo para "Mamãe É de Morte", assim como para praticamente toda a filmografia de Waters. Desde "Pink Flamingos" (1972), Waters vem destilando seu estilo, independentemente do orçamento. "Mamãe É de Morte" pode ser considerado seu filme mais sofisticado, não só em termos de produção. Em "Hairspray" (1987) e "Cry-Baby" (1990), filmes que marcam a entrada de Waters na indústria, o escracho está na própria caracterização dos personagens e na cenografia, carregados na maquiagem e objetos esdrúxulos. Os personagens de "Mamãe É de Morte" são pessoas normais. E é aí que a acidez de Waters se mostra mais corrosiva, lembrando o humor da revista "Mad". O filme mostra o que se esconde por trás dos mais "corretos" sentimentos em pessoas da mais "correta" formação. A comédia é o formato ideal para destruir as neuroses criadas pelo politicamente correto e pela guerra ao colesterol. Criações justamente de uma sociedade cujas comidas típicas se afogam em gordura e onde a segregação racial se manifesta na rivalidade entre guetos. E é também na comédia que Waters se sente mais à vontade. Na figura de Divine, o diretor projetou a encarnação perfeita de seu escracho ao sonho americano. Com a morte de sua musa, Waters encontrou uma substituta à altura numa Kathleen Turner gorda e cínica, que em quase nada lembra a gostosona de "Corpos Ardentes". Texto Anterior: DESTAQUES DA 18ª MOSTRA INTERNACIONAL Próximo Texto: 'Forrest Gump' tem pré-estréia em SP Índice |
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