São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Quando todos ganham

Está se desenhando um cenário bastante animador como desfecho para a eleição de segunda-feira. Os dois únicos candidatos que as pesquisas dizem ter chance de chegar à Presidência, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, abriram-se ontem para a hipótese de um diálogo entre ambos que só pode ser positivo para o país.
Antes de mais nada, é importante salientar o quanto de evolução política há nessa disposição de parte a parte. Basta lembrar, como comparação, a forma como deixaram o Planalto os dois antecessores de Itamar Franco. O general João Figueiredo recusou-se a passar a faixa a José Sarney, que, por sua vez, só por extrema polidez entregou civilizadamente o cargo a Fernando Collor, seu mais ácido crítico.
Do ódio e da falta de civilidade, passa-se agora à perspectiva de diálogo justamente entre os dois concorrentes que polarizaram o pleito. Melhor ainda: a predisposição ao diálogo se expressa antes mesmo de que os votos sejam depositados nas urnas. Ou seja, quando ninguém pode ter certeza absoluta de qual dos dois será o presidente, por mais que as pesquisas indiquem uma tendência.
Mais do que o simbólico, importa o conteúdo do diálogo em gestação. A agenda para conversações defendida pelos dois candidatos é, precisamente, a mesma de qualquer pessoa de bom senso. Propõem que se discuta como defender a estabilização econômica, para evitar uma nova frustração, e obter a retomada do desenvolvimento.
Até no aspecto mais pontual, a agenda de ambos apresenta coincidências, entre si e com relação à de boa parte da sociedade. Trata-se da reforma tributária, único meio para que o Estado possa dotar-se de recursos para atender às carências sociais, para desonerar aqueles poucos que hoje pagam em demasia e racionalizar o emaranhado infernal de tributos existentes.
A Folha afirmava ontem neste espaço que FHC e Lula serão depositários, nas urnas de segunda-feira, de milhões de esperanças e que "juntos, teriam mais chances de responder a elas do que separados".
Agora que cada um deles dá um auspicioso passo no sentido da aproximação, espera-se que ainda outros passos sejam dados. Ganharão os dois, mas o país ganhará muitíssimo mais.

Próximo Texto: Diques
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.