São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
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Emissão em tempos de real; A voz do povo; Olho no Voto; Exceção à regra; Mendigos; Crítica; Atendimento do Banco do Brasil; Cadastro da PUC-SP

Emissão em tempos de real
"Vêm passando quase despercebidas as manobras do governo para simular o cumprimento dos tetos de emissão monetária, apresentados inicialmente como a principal ou uma das principais 'âncoras' do chamado Plano Real. Números divulgados esta semana revelam que a emissão ultrapassou já em agosto o teto estabelecido para setembro. O que fez então o governo? Na maior cara-de-pau, simplesmente redefiniu a forma de apurar os valores! Originalmente, os tetos diziam respeito à média dos saldos diários nos meses finais de cada trimestre. Em função da dificuldade de respeitar o critério original, passou a valer a média da emissão no trimestre, o que permite obviamente emitir muito mais sem descumprir formalmente os limites. A desculpa apresentada pelo governo para esse procedimento foi tão esfarrapada que não vale a pena nem reproduzi-la. Mesmo com esse artifício, há indicações de que ainda será difícil respeitar os limites nos próximos meses, o que poderá levar o governo a aumentá-los em alguma reedição futura da medida provisória que introduziu o real. É o caso de perguntar: de que vale uma 'âncora' dessas, que pode ser manipulada ou alterada pelo governo a qualquer momento e sem restrições? Se essa é a 'âncora' fundamental do real, como pretende ou pretendia o governo, o plano parece estar em maus lençóis."
Paulo Nogueira Batista Jr., economista (São Paulo, SP)

A voz do povo
"Que povo é este? O povo é povo ou é elite? O povo é a fonte do poder ou é vítima do poder? Há um modo de pensar que é o modo do povo, e há um modo de pensar que é contrário ao modo do povo. O povo quer pensar e resolver seus problemas com o seu próprio modo de pensar. Resolvê-los com qualquer outro modo de pensar é violência contra o povo. Que setor do povo é esse que vota em candidato que não é a voz do povo? Que setor do povo é esse que quer casa, saúde, salário digno, escola, terra, segurança, melhor distribuição da renda, ética na política –mas apóia quem não é a voz do povo? Que povo é esse que quer um Brasil novo, mas finge confiar na elite do passado? Que povo é esse que quer modernidade, mas namora a velharia? Haverá um povo, digno de ser povo, que não queira manifestar a sua voz, a voz própria do povo? Que setor do povo seria esse? Seria, acaso, um povo morto? Nosso povo é um povo vivo. Vota em povo. Vota em Lula."
Goffredo Telles Junior, professor emérito da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Olho no Voto
"Com respeito ao que foi publicado no caderno Olho no Voto (18/09), informo que: 1) presidi, durante um ano, a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação (telecomunicações) e Informática, que exigiu de mim total dedicação; acompanhamento do fórum de informática, concessão de canais de TV e rádio, viabilização da TV a cabo e a telefonia, em especial, celular. 2) Requeri e fui relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para averiguar as causas e dimensões do atraso tecnológico do Brasil. Foram dois anos e meio de reuniões, entrevistas, visitas em instituições de pesquisa. 3) Apresentei e foi aprovado na Câmara o único projeto de saneamento básico do país. Projeto que cria o Fundo Nacional de Saneamento e Defesa do Meio Ambiente. 4) Presença não é só nas sessões do plenário. É também nas comissões, na aprovação dos projetos nas comissões, onde realmente se aprovam os projetos, na fiscalização do Executivo e na busca de informações e dos anseios da população."
Irma Passoni, deputada federal pelo PT-SP (São Paulo, SP)

Nota da Redação – A Folha usou critérios objetivos e verificáveis para computar as presenças e os projetos apresentados pelos parlamentares. O caderno Olho no Voto informava aos leitores, de todo modo, que as atividades dos deputados não se resumem ao plenário, citando as comissões e os cargos diretivos como exemplos.

Exceção à regra
"A coluna Painel S/A publicou, dia 16/09, a nota 'Exceção à regra', em que cita três bancos como preparados para 'a rolagem dos títulos estaduais'. Embora não conste da nota, o Banep (Banco do Estado da Bahia) ostenta uma das melhores condições entre as instituições estaduais de crédito e até mesmo entre alguns fortes concorrentes privados. Isso ficou constatado no balanço encerrado em 30/06 deste ano, quando obteve um índice de rentabilidade de 10,53% sobre o patrimônio líquido. As letras do Tesouro da Bahia, por seu turno, têm obtido financiamento no mercado sem dificuldades."
Paulo Roberto Vianna, presidente do Banco do Estado da Bahia (Salvador, BA)

Mendigos
"Paradoxalmente, enquanto cresce na nossa sociedade uma discussão séria e aprofundada sobre a questão da cidadania, somos bombardeados por ações administrativas como a operação 'limpeza da cidade', que não trata apenas da retirada do lixo das ruas, mas da expulsão dos mendigos, de maneira desumana, das áreas públicas."
Gracinda Mendes, seguem-se mais 198 assinaturas (São Paulo, SP)

Crítica
"O comportamento explícito da Folha em relação às eleições atuais é realmente lamentável. O bom jornal deve, a meu ver, em primeiro plano, informar, entreter e divertir, além da parte de utilidade pública que deve prestar ao leitor. Em vez disso, tem se tornado desprazeroso ler a Folha, especialmente o primeiro caderno. Sua equipe de jornalistas está em peso empenhada e unida no sentido de esconder ou maquiar notícias que dizem respeito a FHC e suas companhias, da mesma maneira quando se trata de denegrir a imagem de Lula e do PT."
Marta Miguel (São Paulo, SP)

Atendimento do Banco do Brasil
"Comentando o artigo 'Só podem estar brincando' (20/08), de Gilberto Dimenstein: o povo brasileiro, que é submetido aos (maus) préstimos do Banco do Brasil, é sobejamente conhecedor do descaso com que o cliente lá é tratado. A causa, todos sabemos, reside na estabilidade funcional."
Salviana von Hohenheim (Curitiba, PR)

Cadastro da PUC-SP
"A leitora Valéria Fonseca reclama que teria recebido propaganda política de Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, que teria sido encaminhada pelo professor Franco Montoro, da PUC-SP, da qual Valéria é aluna do quinto ano de Direito. A reclamação consiste em que o professor Franco Montoro, usando o cadastro da faculdade, estaria violando a ética e a dignidade. Tenho duas filhas que estudam na PUC-SP e afirmo, categoricamente, que elas têm recebido propaganda política de inúmeros candidatos de partidos diversos, o que vale dizer que, se há uso do cadastro da PUC, ele é geral, sem discriminação partidária."
Paula Sapir Febrot (São Paulo, SP)

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