São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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AT&T pode investir mais de US$ 1 bi no Brasil após liberação do mercado

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A American Telephone and Telegraph Company, que em breve vai mudar seu nome formal para a sigla com que ficou conhecida nos 130 países em que opera –AT&T–, tem grandes planos para o Brasil, onde atualmente tem 400 empregados e escritórios em São Paulo, Rio e Brasília.
Tudo depende da rapidez com que o novo governo venha a liberalizar o mercado de telecomunicações o que, para ela, não significa apenas privatizar companhias estatais, mas —principalmente — incentivar a competição.
Quando isso ocorrer, a AT&T estará pronta para investir em pouco tempo mais do que no México, onde acaba de anunciar a criação de uma joint venture que vai aplicar US$ 1 bilhão em "alguns anos".
Essas informações foram dadas por Victor Pelson, vice-presidente executivo e líder da equipe de operações globais da empresa, em entrevista à Folha em Miami (EUA), no início de dezembro, durante a Cúpula das Américas.
A seguir, trechos da entrevista, da qual também participou o diretor de relações públicas da AT&T no Brasil, Fabio Steinberg:
Folha – Quais são os planos da AT&T para o Brasil?
Victor Pelson - A AT&T está extremamente interessada em aumentar sua presença no Brasil. Nós estamos falando de uma das maiores economias do mundo, que atravessa dramáticas mudanças. Nós sabemos que a necessidade de infra-estrutura de comunicação estará entre as grandes prioridades para o Brasil nas próximas décadas e nós queremos estabelecer uma posição forte nesse mercado.
Por enquanto, a quantidade de negócios que temos feito no país é relativamente pequena. Mas à medida em que a economia se expandir e o mercado se abrir, nós esperamos que as coisas mudem.
Folha - Com que velocidade o sr. prevê que essas mudanças venham a ocorrer?
Pelson - Nós temos acompanhado ao redor do mundo, país por país, esse processo de liberalização da economia. Uma coisa é privatizar empresas estatais. Outra, muito diferente, é abrir o mercado para a competição. A privatização por si só não ajuda muito. O mais importante é encorajar a competição.
Com que velocidade isso vai ocorrer no Brasil, nós não estamos em posição de dizer. Só podemos esperar que, se a nova liderança do país estiver mesmo interessada em atrair investimentos externos e em ter os sistemas de comunicação de que precisa, isso aconteça com bastante rapidez.
Nós vimos isso ocorrer em várias partes da Ásia e agora começando no México e no Chile e esperamos que o Brasil, é claro, com o enorme tamanho de sua economia, também venha a fazer o mesmo.
Folha - O que vocês aprenderam com sua experiência em outros países que vocês não vão querer repetir no Brasil?
Pelson - É sempre difícil descrever nossos erros. Mas eu vou tentar responder.
Primeiro, é muito importante estabelecer boas relações e ter um bom entendimento com os agentes-chaves do governo e da indústria nacionais. A indústria da comunicação está sempre muito vinculada ao governo devido a questões de regulamentação.
Segundo, é importante se entender que se trata de estabelecer uma relação de longo prazo no país: não somos uma companhia em busca de lucratividade rápida; temos que ter um compromisso de longo prazo com o país em que investimos.
Terceiro, precisamos ter certeza de que a tecnologia que oferecermos ao país será a mais recente e que ela vai se adaptar às necessidades do país; temos que entender a cultura, a economia, a política do Brasil em vez de fazer negócios como costumamos fazer nos EUA ou na China ou no México.
Quarto, e isso é uma coisa que nós nem sempre fizemos em outros países, temos que fazer com que a liderança da AT&T no Brasil seja brasileira, seja formada por pessoas que entendam a cultura, a língua, os costumes brasileiros.
Folha - Vocês ainda não têm no Brasil um presidente da empresa, têm?
Pelson - Ainda não.
Folha - Estão procurando?
Pelson - Sim. E no momento certo, seu nome será divulgado.
Folha - Quando será o momento certo?
Pelson - Mais ou menos... depressa. Em pouco tempo. Quanto mais cedo, melhor. O cronograma vai ser ditado pelo momento em que acharmos a pessoa, não pelo nosso desejo de encontrá-la.
Folha - Se no México vocês investiram US$ 1 bilhão, é seguro supor que no Brasil a AT&T está preparada para aplicar mais?
Pelson - Se o Brasil abrir o seu mercado, nós estamos preparados para investir significativamente no país. Como a economia brasileira é bem maior que a mexicana, com certeza mais do que aplicamos lá.

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