São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Indústria acha que importações são irreversíveis e procura se adaptar

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano de 1995 será de "ou vai ou racha" para a indústria brasileira. Exposta à abertura comercial, ela reivindica, para sobreviver, a redução das condições de desigualdade com os importados.
O empresariado industrial considera de maneira unânime que o modelo de mercado fechado e de substituição das importações está esgotado e que a abertura "irreversível" é a nova estratégia de desenvolvimento do país.
A indústria quer, porém, que as importações sejam acompanhadas de incentivos a investimentos produtivos no país.
Na avaliação de empresários ligados à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e ao Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) a abertura indiscriminada pode levar ao atraso tecnológico da indústria brasileira que passaria a se especializar em produtos "populares".
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp diz que o empresariado industrial não é contra a abertura às importações. A Fiesp, diz ele, vai insistir nas reformas estruturais.
Moreira Ferreira diz que é impossível falar a sério em competitividade da indústria brasileira sem a correção dessas distorções e enquanto o país não tiver juros iguais aos do mercado internacional.
Adauto Posa Ponte, presidente da Abifa (associação de fundição), diz que a abertura às importações estava atrasada mas muito mais atrasada está a modernização das instituições do país.
O empresariado acha que, diante do atraso das instituições, a abertura colocou o setor numa posição de desvantagem em relação aos manufaturados no exterior.
A Fiesp calcula que a indústria carrega uma carga de acréscimo de custos de 15%%, o chamado "fator Brasil", em comparação com os produtos importados.
O setor exportador da indústria brasileira se queixa ainda da defasagem cambial, a valorização de 15% do real frente ao dólar desde a introdução do real.
"É exigir demais que a indústria brasileira concorra com os importados, saindo com uma desvantagem de custos de 30% por questões fora do controle gerencial das empresas", diz Ponte.
Franz Reimer, executivo da Bosch e diretor da Fiesp, diz que o rápido crescimento das importações e a queda das exportações podem causar problemas para a indústria brasileira em 95. Ele prevê uma mudança no perfil da indústria que, para sobreviver, será menos sofisticada passando a se especializar em produtos populares.
Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, presidente do sindicato do setor de iluminação, não concorda com a avaliação de Reimer. "Cerca de 500 empresas que operam no país obtiveram nos últimos dois anos a certificação de qualidade total da série ISO 9000, o que atesta a alta capacidade tecnológica de nosso parque industrial."

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