São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Itamar deixa crise na saúde como herança para sucessor

SILVANA DE FREITAS; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernando Henrique Cardoso herdará problemas que o próprio Itamar Franco admite estar deixando para seu sucessor: crise dos hospitais conveniados ao SUS (Sistema Único de Saúde) e uma dívida social que ele tentou amenizar com o abono de R$ 15 em janeiro para quem ganha salário mínimo e aposentados.
Além disso, ao assumir o cargo, FHC terá de prosseguir o processo iniciado no governo Itamar de concessão da isonomia salarial aos servidores do Executivo e punir os responsáveis pela corrupção em contratos do Ministério dos Transportes com empreiteiras.
"Ainda temos problemas na área de saúde e problemas sociais, mas fizemos o esforço que era possível em dois anos de mandato, que é muito curto", justificou-se Itamar numa entrevista aos jornalistas no último dia 29.
O presidente eleito encontrará o caos na rede hospitalar com ameaça da Federação Brasileira de Hospitais de suspender o atendimento já no início do mandato. Só metade da dívida de R$ 580 milhões em outubro pelos serviços prestados foi paga.
A equipe econômica de Itamar, sem entrosamento com a da Saúde, não deixou qualquer perspectiva para os pagamentos de novembro e dezembro, acumulando uma dívida superior a R$ 1 bilhão.
FHC sabe também que será pressionado para manter o abono de R$ 15 que elevou o salário mínimo a R$ 85, previsto apenas para janeiro. Já se prevê um rombo de R$ 240 milhões na Previdência no primeiro mês do ano.
Nas primeiras semanas no cargo, FHC terá de negociar com uma comissão formada por representantes do governo, centrais sindicais e Federação dos Aposentados as soluções imediatas para aumentar a receita da Previdência e manter o mínimo em R$ 85.
Itamar não quis punir empreiteiras e suspender contratos tidos como irregulares no Ministério dos Tranportes. Na mesma hora em que recebeu o relatório da CEI (Comissão Especial de Investigação do Executivo) com os indícios da corrupção, o presidente o repassou para Fernando Henrique Cardoso.
Na questão isonomia, Itamar deixou para seu sucessor na Presidência da República a decisão de pagar os 45% que ainda faltam para equiparar os servidores dos Três Poderes, com gasto de R$ 111 milhões por mês. Falta também pagar a diferença da gratificação aos servidores, que custa outros R$ 29,5 milhões mensais.
(Silvana de Freitas e William França)

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