São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Classe média inicia 95 endividada

VERA BUENO DE AZEVEDO; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A classe média inicia 95 com o orçamento apertado e endividada. Tradicionalmente a principal responsável pelo aumento do consumo, este ano ela deve ceder seu posto para a população de menor poder aquisitivo.
Pressionada pela alta das despesas básicas (educação, moradia e saúde), que tiveram aumentos reais de até 75% na troca de moeda, e com os salários convertidos pela média, seu poder de compra foi reduzido desde o Plano Real.
Somando a isso a necessidade de pagamento das dívidas assumidas no final do ano passado, a tendência é de que a classe média passe a comprar menos este ano.
Segundo o economista Nelson Barrizzelli, da USP, o que houve no final do ano passado foi a transferência, para o consumo, do dinheiro poupado antes do Real.
"Houve também uma mudança qualitativa de consumo. Os produtos mais baratos foram substituídos pelos mais caros, de grife, o que lhes dá uma sensação de maior poder aquisitivo", diz Barrizzelli.
Além disso, diz Gustavo Ayala, consultor de empresas da ABL, de agosto a dezembro ocorreu uma realização de compras represadas antes do Plano Real. "Não foi uma demanda adicional", afirma.
Esta tese é comprovada pelo comportamento das vendas de linha branca de eletrodomésticos (geladeiras, fogões etc.).
Segundo Claudio Felisoni, consultor de varejo e coordenador do Provar (Programa de Varejo), a comercialização desses produtos aumentou 40% em novembro, em relação ao mesmo período de 93.
Agora, entretanto, a classe média deve perceber que a "sensação" de maior poder aquisitivo é ilusória, afirma Mariângela Sarrubbo, do Procon-SP.
Isso porque este mês começam a vencer as dívidas feitas no final de 94 e adiadas através da utilização de cartões de crédito e cheques pré-datados. As vendas com cartão de crédito dobraram em dezembro, em relação ao mesmo mês de 93.
Entre os 3,5 milhões de cheques emitidos do dia 1º a 26 de dezembro, 65,12% foram pré-datados, segundo consultas à Teledata.
Dados da Associação Comercial de São Paulo indicam que na primeira quinzena de novembro a inadimplência cresceu 45,1% em relação a igual período do mês anterior.

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