São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Consumidor de baixa renda é alvo principal no Ano Novo

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria e o comércio já têm planos traçados para conquistar os consumidores de renda mais baixa e ampliar os negócios este ano.
A partir de amanhã a Marcyn, por exemplo, que confecciona lingerie feminina, despeja no mercado 120 mil peças de uma nova coleção 40% mais barata.
Com uma produção de 2 milhões de unidades nessa linha, a empresa quer aumentar 20% suas vendas este ano.
Para viabilizar o projeto, que custou US$ 350 mil, conta Mauro Zaborowsky, diretor comercial, a empresa passou a usar um tipo de tecido de lycra que estica para apenas um lado e permite maior rendimento na confecção da lingerie.
Além disso, adotou o saco plástico simples como embalagem para reduzir, ainda mais, os custos. O público da linha Dedicate é o consumidor das camadas C e D.
"Apostamos no crescimento do mercado de produtos baratos e com qualidade", diz Zaborowsky.
É que com a queda da inflação, diz ele, dobrou o poder de compra dos assalariados desde julho.
Em pesquisa realizada em abril, antes do Plano Real, a empresa detectou que o consumidor mais pobre deseja comprar um produto em conta, mas com qualidade.
É na trilha dessa pesquisa que a Azaléia quer conquistar quem ganha até três salários mínimos.
Para atingir esse mercado ávido por produtos baratos está trazendo da China 11 modelos de calçado popular, em borracha vulcanizada com tecido, que vão estar nas lojas em março. A Azaléia já montou um escritório em Hong Kong.
"O produto importado da China é 30% mais barato do que o fabricado aqui, apesar do imposto de importação de 20%", diz Geovani Sita, gerente.
A empresa chegou a fabricar duas linhas de calçados popular. Mudou de idéia porque constatou que era mais em conta importar.
Em 94, a empresa vendeu 700 mil pares "made in China". Pretende mais do que dobrar esse volume em 95.

Tíquete
Atentas para esse mercado emergente, grandes lojas contabilizaram, no ano passado, os resultados de estratégias adotadas desde o início do Plano Real.
Na loja de departamento Magazan, de Belém (PA), os negócios cresceram 200% de outubro para novembro, depois que a empresa passou a vender mercadorias mais baratas importadas da China.
"Pensando no consumo popular, alteramos o 'mix' de produtos. Com isso, conseguimos reduzir o tíquete médio de venda, entre R$ 120 e R$ 150, para R$ 30 e R$ 40 e ganhamos no volume", diz João Rodrigues, diretor.
A loja, que tem metade da clientela com renda de um a três salários mínimos e os outros 50% entre três e seis mínimos, planeja aumentar os estoques de importados. Dos 15.000 itens vendidos, hoje 20% vêm do exterior por um preço mais barato do que o nacional. A meta, este ano, é aumentar para 45% a fatia dos importados.
"O que o consumidor quer é preço barato. O consumo popular é que vai dar o tom das vendas a partir de agora", diz Rodrigues.
Reestruturação semelhante no "mix" de produtos fez outra rede de lojas, a Le Postiche, alcançar bons resultados.
Alessandra Restaino, diretora comercial da rede franqueada, conta que as vendas dobraram de julho a novembro em relação a igual período de 93, depois que a empresa reforçou os estoques de produtos de maior giro, levando em conta a faixa de preço.
Resultado: o tíquete médio de vendas caiu de R$ 40 para R$ 20.
Segundo ela, a sua loja reduziu preço porque está trabalhando com volume maior de importados.

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