São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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O Brasil e o México

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Nesta última coluna de 94 gostaria de chamar a atenção do leitor da Folha para uma lição que este fim de ano reservou a nós brasileiros. A crise mexicana destes últimos dias e a situação de nossa economia no apagar de 94 resgatam o nome do Brasil nos mercados financeiros internacionais. O sucesso do Plano Real, com uma inflação de apenas 0,8% em dezembro em um sistema de liberdade de preços, é hoje incontestável. Nos principais jornais do Primeiro Mundo têm sido constante as afirmações de analistas financeiros aconselhando os investidores a trocar seus investimentos mexicanos por alternativas nos mercados brasileiros. Apesar das incertezas que ainda temos pela frente são ressaltadas as condições políticas e econômicas favoráveis de nosso país.
Durante anos o México era considerado o paradigma do sucesso de recuperação econômica no mundo em desenvolvimento. E o Brasil o oposto, um exemplo de bagunça, de descalabro administrativo e confusão política. Escapava destes analistas do senso comum as diferenças fundamentais entre estes dois países, principalmente quanto à situação política.
O Brasil, recém saído de mais de 20 anos de ditadura militar, ensaiava os primeiros passos de uma riquíssima experiência de redemocratização. O México, por outro lado, exercitava de maneira vigorosa seu sistema político rígido e oligárquico de tantas décadas. A gestão compartilhada entre uma geração de brilhantes economistas e os tradicionais dinossauros do PRI permitiram a implantação de um processo de reformas modernizadoras na economia, mas não na sociedade mexicana. Estão colhendo hoje os frutos comuns a todos os regimes politicamente fechados: os erros cometidos por falta de crítica e autocrítica.
O caso brasileiro é diferente. A modernização de nossa economia está sendo feita através de um longo amadurecimento e discussão na sociedade. Este sistema é mais complicado mas certamente leva a mudanças mais sólidas e com elevado grau de consenso social. Cabe ao governo de Fernando Henrique terminar este processo. A crise mexicana deve servir como lição para os últimos traços da política econômica para os próximos quatro anos.

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