São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Perda de memória atinge 25% dos executivos

ALEX SPILLIUS
DO "INDEPENDENT"

Você tem esquecido coisas importantes? Se a resposta é sim, bem-vindo ao clube. A perda de memória está se tornando um importante fator de ansiedade entre os trabalhadores nos anos 90.
Uma pesquisa com 15 mil executivos e gerentes da Escola de Administração European revelou que, há cinco anos, 15% deles citavam a memória e a concentração como preocupações principais. Em 93, o número subiu para 25%.
Michael McGannon, diretor clínico do curso de saúde no trabalho, comentou: "A vida está acelerando na pista da esquerda. Os mercados estão ficando menores e as pessoas precisam aumentar sua contribuição. Em vez de digerir uma idéia durante uma tarde, sua memória e concentração têm que estar a postos o tempo todo".
Segundo ele, estresse e poluição fazem diferença. "Ter estresse significa ocupar a mente com 15 coisas diferentes ao mesmo tempo, enquanto a poluição aumenta o monóxido de carbono e diminui o oxigênio que você inspira e do qual o cérebro precisa."
Estudos após estudos chegam à conclusão de que o chumbo da gasolina e de outras fontes causam danos à capacidade intelectual e de atenção das crianças. A conclusão é que qualquer pessoa que nasceu depois dos anos 60 pode ter tido sua memória enfraquecida.
"Se as neurotoxinas afetam as crianças, devem provavelmente interferir com o desempenho normal dos adultos", afirma Robin Russel-Jones, médico consultor do Hospital de St. Thomas (Londres).
McGannon argumenta que as pressões do dia-a-dia criaram uma geração que se sobrecarrega com tarefas simultâneas. "Imagine pentear o cabelo, dar uma bronca em um filho, tomar um sorvete e tirar uma foto –tudo ao mesmo tempo. É isso o que eles estão tentando fazer. Acham que são capazes, mas não são."
Em um laboratório em Cambridgeshire estão sendo desenvolvidos dispositivos que eventualmente podem ajudar a evitar esses "desvios mentais".
O Centro de Pesquisas Rank Xerox está pesquisando métodos para ajudar as pessoas a lembrar das tarefas que precisam cumprir e das que já fizeram.
Enquanto isso, proliferam os livros sobre como aprimorar a memória. Empresas farmacêuticas também lutam para encontrar uma droga que combata definitivamente a perda de memória.
Esta, aliás, não é uma queixa restrita aos idosos. Aparentemente, qualquer um com cerca de 30 anos de idade tem o dúbio privilégio de apagar da memória nomes e rostos, trancar o carro com as chaves dentro e esquecer de cumprir uma tarefa um minuto depois de lembrar de fazê-la.
Há um sentimento crescente de que nossa memória simplesmente já não é tão eficiente como costumava ser e que, na verdade, está ficando pior. Às vezes, parece realmente que ela está "fazendo água" por todos os lados.
"Não há dúvida de que as pessoas, em geral, sentem que têm uma memória ruim", comenta Abigail Sellen, do Centro de Pesquisas Rank Xerox. "Se elas levam uma vida agitada, têm maior propensão à distração."
Se é assim, as formas de trabalho dos anos 90 apóiam a tese de que nossa memória está diminuindo. Quem tem emprego está trabalhando mais duro e por mais horas em ambientes frequentemente mais competitivos.

Tradução de GLADYS WIEZEL

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