São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Governo pode não pagar salário integral

AMÉRICO MARTINS CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O funcionalismo público do Estado de São Paulo pode ficar sem receber seu salário integral neste mês. A informação foi dada pelo secretário do Planejamento, André Franco Montoro Filho, logo depois da posse do governador Mário Covas.
"A situação é muito precária e os recursos são limitados", afirmou Montoro Filho para justificar a possibilidade de problemas no pagamento do funcionalismo.
Segundo o secretário, o governo paulista depende da arrecadação do ICMS nos primeiros dias de janeiro para fazer caixa e cumprir o compromisso com os servidores.
O secretário pediu ainda a "compreensão" dos servidores e declarou que o Estado não fará nenhum investimento nos próximos três meses.
Montoro Filho descartou a possibilidade de o Estado fazer uma antecipação de receita –ou seja, empenhar as arrecadações futuras do governo para conseguir dinheiro para o funcionalismo.
Covas deu início ontem mesmo à tentativa de reestruturar o Estado. Ele extinguiu, através de decreto publicado no "Diário Oficial", diversos cargos nas Divisões Regionais de Ensino. Ele também fechou a Divisão Especial de Ensino de Registro.
Com a medida, o governador exonerou do cargo ou dispensou os funcionários que ocupavam cargos em comissão ou que recebiam gratificações.
Além disso, ele determinou que a Secretaria de Saúde elabore em 30 dias um estudo redefinindo as funções das coordenações e direções regionais de saúde.
O discurso de Covas na cerimônia de transmissão do cargo de governador teve a predominância do tom social. "Pretendo contribuir para apagar da memória estatística essas obscenidades que são nossos indicadores sociais", afirmou.
A fala de Covas foi acompanhada por um Fleury visivelmente pouco à vontade no auditório do Palácio dos Bandeirantes, que estava lotado de tucanos.
"O resgaste da dívida social" foi prometido por Covas. "Eis o compromisso maior da minha candidatura e de meu governo: a determinação de revolucionar o cotidiano dos paulistas", disse Covas.
O novo governador reafirmou, no discurso, a intenção de trabalhar em parceria com a iniciativa privada e de "devolver a São Paulo a voz que lhe pertence".
Covas prometeu, ainda, "ser um divisor de águas", enfrentar as corporações e criticou o populismo e o clientelismo.
Em rápida entrevista após a cerimônia, Covas classificou seu discurso como o do "portador dos sonhos" da população paulista. "Já vi centenas de sonhos, quando bem brigados, serem transformados em realidade", disse.
A cerimônia no Bandeirantes teve a participação de d. Paulo Evaristo Arns, cardeal-arcebispo de São Paulo, que emocionou Covas e sua mulher, Lila, ao lembrar que há exatamente 19 anos o casal perdia sua "filha predileta". Arns referia-se à morte de Silvia Covas em acidente de trânsito.
O senador Eduardo Suplicy e a deputada federal eleita Marta Suplicy foram os únicos petistas ilustres presentes à cerimônia.

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