São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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'A Ford não será mais a quarta do mercado'

Folha - Quais são os planos da Ford para 95, após a dissolução da Autolatina?
Ivan Fonseca e Silva - A partir do dia 1º começamos a trabalhar de maneira independente, embora sob o aspecto formal a Autolatina ainda não tenha se dissolvido. Os planos da Ford para o Brasil são extremamente ambiciosos. Vamos produzir no Brasil e na Argentina veículos em escala mundial. A idéia é concentrar investimento na produção em alta escala.
Folha - Em que produtos haverá essa concentração?
Fonseca e Silva - Na nova Ford vamos concentrar os investimentos no carro pequeno, que é o grande mercado. O produto é o Fiesta. Na Europa, o Fiesta é o mais vendido no segmento dos carros pequenos. É esse carro que vai ser produzido no Brasil.
Folha - Quanto a Ford vai investir nesse projeto?
Fonseca e Silva - O investimento é da ordem de US$ 800 milhões. Prevê também instalação de fábricas para a produção de motor e transmissão para o Fiesta. Esses investimentos adicionais estão ligados à exportação. Vamos produzir motores e transmissões não apenas para atender às necessidades domésticas, mas também para exportar.
Folha - Onde serão instaladas essas novas fábricas?
Fonseca e Silva - Planejamos expandir a nossa fábrica de Taubaté. Atualmente ela produz componentes de suspensão e itens de transmissão. A fábrica de motores está fechada desde 88. Vamos modernizar a unidade para produzir transmissões e motores no mesmo nível técnico dos produzidos na Europa.
Folha - A Ford vai investir quanto em Taubaté?
Fonseca e Silva - Mais ou menos US$ 350 milhões. O que se soma aos US$ 450 milhões que constam do protocolo assinado com o governo para a produção do carro popular. Esse investimento será feito em 95 e 96. Vamos produzir os primeiros Fiesta em dezembro. Pretendemos fabricar mil por dia.
Folha - Até dezembro a Ford vai vender o Fiesta importado, produzido na Espanha. Quando ele chega ao Brasil?
Fonseca e Silva - O primeiro lote –7.000 unidades– chega no meio de janeiro. Vamos vender o que o mercado exigir, porque existe capacidade de produção na Europa. O plano é importar no mínimo 52 mil em 95.
Folha - O sr. acredita que a Ford possa sair do quarto lugar no ranking das montadoras em 95? Qual deve ser a participação de mercado da marca este ano?
Fonseca e Silva - Será difícil alterar essa situação em 95. Vamos aumentar as importações, mas nas faixas acima do Fiesta o mercado não é tão elástico. Pretendemos vender em 95 mais de 270 mil unidades. O que daria uma participação de mercado de 16%. Em 96, teremos a grande virada. Passaremos a contar com a produção local do Fiesta, já como carro popular. Vamos atingir 350 mil unidades. Desse total, 180 mil a 200 mil serão Fiesta.
Folha - Que lugar a Ford pretende ocupar no ranking das montadoras no próximos anos?
Fonseca e Silva - Essa história de dizer que pretende ser líder dá azar. Quem falou que ia ser líder andou para trás. Mas, com certeza, a Ford não será mais a quarta do mercado.
Folha - Por que a Ford somente agora decidiu fazer esses grandes investimentos? A Autolatina atrapalhou o desenvolvimento da Ford?
Fonseca e Silva - A constituição da Autolatina, em 1987, foi uma atitude de defesa para participar em um mercado instável, onde não havia base para investimentos mais agressivos. Foi necessário criar a Autolatina para diminuir o prejuízo. A estratégia funcionou em um período de incerteza. Com a mudança econômica, foi necessário rever tudo.
Folha - Qual o papel que está reservado para a Ford Brasil no processo de globalização da Ford mundial?
Fonseca e Silva - O objetivo da globalização da Ford é alcançar a liderança mundial. Para atingir essa meta, precisa ter participação significativa no mundo inteiro. Aumentar a participação no mercado brasileiro e argentino é objetivo estratégico.
Folha - Como fica a proporção entre a produção local e importações da Ford Brasil?
Fonseca e Silva - Vamos reservar a importação para segmentos que não têm muito volume. A Ford não vai ser uma importadora. O ano de 95 será de transição. A partir de 96, as importações vão representar menos de 20% das nossas vendas. A picape Ranger, por exemplo, será montada no Brasil. Faremos do Brasil centro mundial de produção para determinadas versões do Ranger, a partir de 96 ou 97. O Fiesta, o Escort –que terá nova versão produzida no Brasil e Argentina a partir de 96–, a F-1000 e a picape Ranger vão representar mais de 80% da nossa produção. No caso dos automóveis, precisamos atingir a produção de 150 mil a 200 mil unidades por ano para atingir a mesma eficiência do exterior.
Folha - A Ford vai deixar de fabricar no Brasil os carros de luxo, como o Versailles?
Fonseca e Silva - A Ford não tem planos para tirar nenhum carro de linha. A Ford vai reduzir o preço do Versailles e concentrar a produção nas versões mais básicas. Acima do Versailles ficam os importados Mondeo e Taurus. Ainda este ano vamos importar também o Mustang.
Folha - Qual é o total de investimentos previstos pela Ford no país, incluindo a área de caminhões?
Fonseca e Silva - O investimento não pára nos US$ 800 milhões. Vamos investir também na fábrica de caminhões do Ipiranga, em consequência da nacionalização prevista do Ranger. Nos próximos dois anos, vamos investir na região, incluindo a Argentina, mais de US$ 1,1 bilhão, ou seja, cerca de US$ 550 milhões por ano. Isso significa cerca de US$ 2 milhões por dia útil.
Folha - A Ford pretende apresentar reivindicações ao novo governo?
Fonseca e Silva - A Ford está muito contente com a política econômica do governo. O nível de proteção que existe para a indústria, com a alíquota de importação de 20%, é satisfatória. Mas há alguma coisa que pode ser aperfeiçoada. É preciso diminuir a carga tributária sobre a folha de pagamento, alterar os chamados impostos perversos, ou seja, PIS e Cofins, e criar uma política de incentivo às exportações. Um outro ponto que deve ser aperfeiçoado é a política tributária para as vendas internas. Atualmente essa política está distorcida. O governo vai acabar perdendo arrecadação de IPI com o automóvel. A Ford apóia um aumento da carga tributária sobre o carro popular e a redução do IPI sobre o carro médio.
Folha - A Ford condiciona o seu plano de investimentos a algum tipo de entendimento com o governo?
Fonseca e Silva - Estamos satisfeitos do jeito que está. Achamos que pode melhorar. E se melhorar podemos fazer mais e aumentar o investimento.

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