São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Vitória brasileira surpreende estrangeiros

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os principais corredores estrangeiros que participaram da 70º São Silvestre custavam a acreditar, após a prova, que um atleta brasileiro tinha vencido.
"Sinceramente, eu não acreditava que um brasileiro pudesse ganhar", afirmou Arturo Barrios, 31, mexicano naturalizado norte-americano.
Essa descrença nos brasileiros era generalizada. Nenhum dos corredores estrangeiros ouvidos pela Folha confiava na possibilidade de o Brasil voltar a vencer, após nove anos de jejum na São Silvestre.
"Ele nos surpreendeu. Impôs um ritmo muito forte no final", afirmou o etíope Fita Bayesa, 22, vice-campeão no ano passado.
Este ano Bayesa teve problemas musculares no final da prova e chegou em 43º lugar.
"Já conhecia o Ronaldo, mas não acreditava que ele pudesse manter aquele ritmo até o final", disse o veterano Barrios.
Vencedor em 1990 e 1991, ele chegou somente em décimo lugar este ano.
"Eu não estava bem fisicamente. A 5 km do final pressenti que não dava mais para ganhar", afirmou.
Entre os estrangeiros considerados favoritos antes da prova, o melhor colocado foi o mexicano German Silva, 26, que ficou em terceiro.
Entre os africanos, que têm vencido as principais competições de longa distância nos últimos anos, o melhor colocado foi o etíope Addis Abebe, 24, que chegou na quinta posição.
"Não esperava que um brasileiro ganhasse", disse o atleta da Etiópia, recordista mundial dos 10 km de rua.
Abebe acompanhou Ronaldo por vários quilômetros antes que o brasileiro se distanciasse, a cerca de 3 km da linha de chegada.
"No meio da prova, quando corríamos juntos, senti que ele estava bem preparado e que podia vencer", disse Abebe.

Disposição
A disposição do brasileiro surpreendeu também o queniano Simon Chemwoyo, 26, que tentava o tricampeonato da São Silvestre. Ele venceu as duas corrida anteriores, em 1992 e 1993.
"Eu realmente não esperava que o principal adversário fosse ser um brasileiro", disse o queniano, que fez no sábado sua pior apresentação na prova, ficando em 55º lugar.
"Deixamos ele se distanciar e depois ficou difícil descontar essa vantagem. Quando percebi que não daria para alcançá-lo, me desanimei um pouco", afirmou Chemwoyo.
Os estrangeiros também se surpreenderam com a quarta colocação do paranaense Vanderlei Cordeiro de Lima.
"Os atletas brasileiros se preparam bem este ano", disse o queniano.
O vencedor Ronaldo sabia disso. Ele confiava nas suas chances de vencer desde bem antes de começar a prova.
Em entrevista à Folha na sexta, Ronaldo afirmou: "Ficamos 24 anos sem a Copa do Mundo e estamos há 9 sem o título da São Silvestre. Acho que chegou a nossa hora".

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