São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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Dívida de estatais energéticas cresceu 220%

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 11/01/95
O crescimento da dívida das empresas estatais energéticas de São Paulo, durante os governos Orestes Quércia (1987-1991) e Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1994), não foi de 220% conforme afirma reportagem publicada à pág. 1-9 da edição do último dia 9. Nestes oito anos, os débitos dessas empresas aumentaram 242,8%.
A dívida das empresas estatais paulistas do setor energético cresceu 220% nos governos Orestes Quércia (87 a 91) e Luiz Antonio Fleury Filho (91 a 95), ambos pertencentes ao PMDB.
A dívida total da Eletropaulo, Cesp, CPFL e Comgás passou de R$ 2,1 bilhões, em 86, para R$ 7,2 bilhões hoje.
Relatório do conselho de administração das quatro energéticas mostra que o débito atual é dividida da seguinte forma: Cesp - R$ 4,6 bilhões, CPFL - R$ 274 milhões, Eletropaulo - R$ 2,3 bilhões e Comgás - R$ 98 milhões.
A dívida da Cesp, a maior entre as energéticas, representa cerca de 45% do patrimônio líquido da empresa em 94 (R$ 8,9 bilhões).
O débito, diz o relatório, decorre de empréstimos e financiamentos, debêntures, títulos e contribuições sociais, obrigações especiais e títulos a termo de energia.
Em 87, quando Franco Montoro deixou o governo do Estado, o débito das estatais energéticas oscilava entre R$ 1,7 bilhão e R$ 2,1 bilhões, segundo cálculos do ex-presidente da holding que reunia as empresas, o ex-ministro José Goldemberg. No final do governo Quércia, em 91, a dívida saltou para R$ 3,8 bilhões.
O secretário de Energia, David Zylbersztajn atribui a elevação da dívida principalmente à má gestão das estatais.
A má gestão seria caracterizada por suspeitas de superfaturamento, contratação de funcionários por indicações políticas, despesas desnecessárias e falta de planejamento.
O vice-governador eleito, Geraldo Alckmin cita o caso da Eletropaulo. A estatal compra energia elétrica por R$ 30 o quilowatt/hora e revende por R$ 60. Mesmo com essa margem, apresentou um déficit de R$ 612 milhões em 93.
O mesmo ocorre com a Comgás. A empresa compra gás por R$ 1,82 por milhão de BTU (padrão de medida internacional para o setor) e o revende por R$ 3,4. Em 93, a empresa apresentou um déficit de R$ 4,7 milhões.
"Se pegarmos indicadores de companhias energéticas de outros Estados, os custos das companhias de São Paulo chegam a ser 300% mais altos. Do ponto de vista técnico não há explicação para isso", afirma Zylbersztajn.
Na sua opinião, a situação financeira das estatais só vai melhorar com mudanças de gestão, que dêem à sua direção características de produtividade e competitividade aplicadas na iniciativa privada.
Além da má gestão, três fatores teriam influenciado na elevação da dívida: a construção de novas hidrelétricas, a contenção tarifária praticada até o final de 93 e a rolagem da dívida.
No governo Fleury, entraram em operação dez turbinas nas hidrelétricas de Rosana, Taquaruçu, Três Irmãos e Mogi Guaçu. O governo ainda continuou as obras das usinas de Canoas 1 e 2 e de Porto Primavera.
O secretário de Energia do governo Fleury, Walter Bodini, afirma que o débito cresceu em função da rolagem das dívidas.
O aumento do número de funcionários também auxiliou a ampliar os custos operacionais das estatais energéticas.
Em 86, as empresas tinham 44.491 funcionários, segundo o "Balanço Anual" do jornal "Gazeta Mercantil". O número hoje é de 60 mil funcionários, dos quais 13 mil contratados a partir de empresas fornecedoras de mão-de-obra, a chamada "terceirização".
O governador Mário Covas fará um levantamento da situação das empresas, para avaliar o fluxo de caixa e a formação da dívida atual e, assim, definir a mudanças de gestão e redução de pessoal.
Zylbersztajn promete rever os contratos firmados pelo governo do Estado com empreiteiras e, em caso de suspeita de irregularidades, apresentar recursos à Justiça.

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