São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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Estrela planeja importação recorde

NELSON BLECHER
ENVIADO ESPECIAL A LAS VEGAS

A Estrela, maior fabricante de brinquedos do país, prevê um ano de importações recordistas em sua cinquentenária história, em razão de fortes pressões de preços exercidas por produtos da China.
Os brinquedos importados deverão representar até 25% dos volumes a serem comercializados pela Estrela em 95, bem mais do que os 10% registrados em 94, quando as vendas à vista da companhia atingiram US$ 170 milhões e foram 30% superiores às do exercício anterior.
Segundo o presidente da Estrela, Mário Adler, as importações possibilitam dispor de grande variedade de estoques sem que a empresa tenha necessidade de injetar novos investimentos na produção.
"Queremos fazer de tudo para manter a operação industrial. Caso contrário haverá desemprego", diz o empresário Mário Adler, que está fazendo reformulações em sua área de marketing.
A idéia, segundo o empresário, é trazer da China somente brinquedos de qualidade, com componentes eletrônicos cujos custos locais seriam pouco competitivos devido aos impostos, preço de mão-de-obra ou insumos.
Adler conta que o custo do trabalho de um operário da indústria têxtil no Japão alcança US$ 23 a hora, em comparação aos US$ 0,36 do chinês. "Ninguém consegue bater a China. Os países criam certas barreiras", conclui, ao apontar um dos caminhos que o governo brasileiro deveria seguir.
A outra opção, de acordo com o empresário, é baixar os impostos. "A indústria nacional de brinquedos, que é a mais avançada da América Latina, quer ter condições de produzir e não ser sucateada, como ocorreu no México", afirma Adler.
Ele diz já ter externado essa preocupação ao presidente Fernando Henrique Cardoso e acredita que, a exemplo da Estrela, outras empresas do setor devem ampliar a parcela de importações em 1995.
Quatro unidades de negócios passarão a funcionar de forma especializada nos segmentos de bonecas, jogos, brinquedos para meninos e outros. Será mantida em 1995 a verba de US$ 15 milhões a ser investida em campanhas de publicidade.
O empresário visita a feira de eletrônicos de consumo (CES), aberta na sexta-feira em Las Vegas, em companhia de Eugênio Staub, presidente da Gradiente, que divide sociedade com a Estrela na Playtronic.
A Playtronic, que monta videogames Nintendo na Zona Franca de Manaus, teve vendas de US$ 55 milhões em 1994.
Esse segmento de jogos eletrônicos, liderado no país pela Tec Toy, que comercializa o sistema Sega, é apontado por Adler como um dos mais promissores no mercado brasileiro.
"As vendas de videogames podem atingir US$ 500 milhões dentro de dois a três anos", estima.
Atualmente, respondem por cerca de US$ 150 milhões anuais, bem inferior aos US$ 600 milhões movimentados pelo setor de brinquedos convencionais em 1994.
Os lucros da Playtronic, segundo Staub, vêm sendo reinvestidos. Estrela e Gradiente investiram US$ 3 milhões para implantar a indústria um ano e meio atrás.
Trata-se da única fábrica licenciada pela Nintendo fora do Japão. "Temos direito de vender para a Argentina", diz Adler. Staub acrescenta que, graças ao impulso dado pelo Mercado Comum do Sul (Mercosul), as exportações devem se estender ao continente, sem data fixada para começar.

O jornalista NELSON BLECHER viajou a convite da Playtronic/Nintendo.

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