São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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Espanhóis rebelam-se contra o Exécito

CARLOS CIPRÉS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um radical método de protesto contra a obrigatoriedade do serviço militar se tornou comum nos últimos anos na Espanha. Conhecidos por objetores de consciência, adolescentes que se recusam a servir o Exército já são cerca de um terço dos convocados no país. Muitos levam sua decisão às últimas consequências –o que às vezes pode significar cadeia.
Em 1994, o Movimento dos Objetores de Consciência (MOC) intensificou-se de tal maneira que o Ministério da Defesa espanhol tem advertido que, neste ritmo, em cinco anos o Exército não poderá recrutar o pessoal necessário para suas atividades.
O secretário da Administração Militar espanhola, Julián Arévalo, acredita que isso não acontecerá. Para ele, a opinião pública espanhola hoje tem uma visão "crescentemente contrária" à objeção de consciência. Por isso, segundo Arévalo, o número de jovens que se recusam a servir deve diminuir.
Entretanto, o crescimento continua, por enquanto. Entre janeiro e outubro de 94, mais de 68 mil jovens (cerca de um terço do total) chamados a cumprir o serviço militar obrigatório recusaram-se a ingressar nas Forças Armadas. Só para comparação, no Brasil o número de jovens que se alistam mas não voltam a comparecer aos quartéis não chega a 6%.
Nos últimos dez anos, mais de 200.000 espanhóis declararam objeção de consciência para não servir o Exército (isto é, se consideram impedidos em razão de posições ideológicas ou religiosas). Um passo mais radical é negar-se a realizar a Prestação Social Substitutória (PSS). Estes são os chamados insubmissos.
Os insubmissos podem ser condenados a penas de dois anos e quatro meses de cadeia. Mas alguns juízes e promotores têm se negado a condená-los.
Mesmo assim, cerca de 50 deles estão presos e foram adotados pela Anistia Internacional como presos de consciência. Outros, mesmo sem condenação, têm optado por entregar-se voluntariamente à Justiça.
O principal foco de objetores de consciência está no País Basco (norte da Espanha), uma região conhecida por sua rebeldia, em que parte da população quer se separar do governo de Madri. Cerca de metade dos convocados nesta região se recusa a servir.
O mesmo acontece na Catalunha, região com forte tendência separatista no nordeste do país.
A maioria dos jovens espanhóis que optou pela objeção de consciência possui formação universitária ou secundária (67,8%), emprego (54%) e carteira de habilitação (72%).
O serviço militar na Espanha tem duração de nove meses; os soldados recebem 1.500 pesetas ao mês –cerca de 12 reais– e há constantes denúncias de maus tratos aos recrutas (as chamadas "novatadas").

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