São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Promessas britânicas não se cumprem

BIA ABRAMO
EDITORA DA ILUSTRADA

O rock britânico dos anos 90 definha, vítima de sua própria afetação e pretensão. Os segundos discos de duas das mais incensadas "promessas" do início dos anos 90, Suede e Cranberries, apontam para uma verdadeira encruzilhada criativa.
Por razões bastante diferentes, é bom ressaltar. O Suede é aquele tipo de banda com ego gigantesco. Eles foram elevados à condição de "revelação de 92" pelo semanário inglês "Melody Maker" antes mesmo de ter um single lançado.
Venderam como água seu álbum de estréia, "Suede". A figura andrógina e antipática (combinação consagrada por Morrissey) de seu vocalista Brett Anderson frequentou capas de revista no mundo inteiro.
A associação com os Smiths, aliás, foi explorada à exaustão. Algo do lamento afetado de Morrissey estava nos vocais teatralizados de Brett. Bernard Butler, guitarrista do Suede até "Dog Man Star", parecia fazer uma versão mais suja e pesada das harmonias nervosas da guitarra de Johnny Marr. Butler deixou a banda no fim de 94.
Em "Dog Man Star", entretanto, fica claro por que Brett & Butler não são Morrissey & Marr. Os Smiths se tratavam com uma espécie de auto-ironia inteligente, mesmo nos momentos mais atormentados de Morrissey. O Suede se leva à sério e alimenta a lenda.
A solenidade impregna as baladas de "Dog Man Star". Os arranjos parecem bolos de noiva, com execesso de cobertura –violinos, teclados, orquestra; todos dispensáveis. Ainda assim, a dramaticidade de Brett tem alguns momentos de brilho como "Black & Blue" e a pinkfloydiana "Asphalt World". E "Heroine" mostra a capacidade da banda de compor vigorosas canções pop.
"No Need To Argue", dos Cranberries, sofre da síndrome quase oposta. Os irlandeses apareceram mais mansamente, com a pretensão de fazer "rock honesto" –que, apesar de parecer mais modesta, continua sendo uma pretensão. "Everybody Else Is Doing It, So Why Can't We?" (todo mundo está fazendo, então porque nós não podemos?), título do primeiro disco, traduzia à perfeição a singeleza do projeto.
No segundo disco disco, a modéstia virou uma espécie de timidez monótona. As canções –que têm nomes como "Empty" (vazio), "Disappointment" (desapontamento), "Ridiculous Thoughts" (pensamentos ridículos)– são agradáveis, a voz e as letras de Dolores O'Riordan são acima da média, mas ao fim das 13 faixas, parece que são uma só. A exceção é "Zombie", uma espécie de hino épico sobre
os conflitos na Irlanda –claro que é puro U2, mas funciona.

Disco: Dog Man Star
Banda: Suede
Lançamento: Sony
Disco: No Need to Argue
Banda: The Cranberries
Lançamento: PolyGram
Preço: R$ 18 (o CD, em média)

Texto Anterior: Voz de Eddie Vedder salva Pearl Jam
Próximo Texto: Segundo Jamiroquai é chato e sem inspiração
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.