São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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Voz de Eddie Vedder salva Pearl Jam

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

A palavra "alternativo" faz as caixas registradoras tilintarem e os donos das gravadoras abrirem grandes sorrisos.
Pois bem, o terceiro disco do Pearl Jam –os "alternativos" rapazes de Seattle– pousa no país depois de estourar nos EUA, liderando vendagens e paradas de sucesso.
"Vitalogy" tem qualidades. Mas, a rigor, o Pearl Jam é uma garganta chamada Eddie Vedder. O cantor possui uma senhora voz, uma das melhores dos grupos de rock dos anos 90. Como nenhum dos músicos do grupo se aproxima da definição de virtuosismo, o talento de Vedder chama ainda mais atenção.
O álbum traz mudanças na formação da banda. As gravações da bateria foram divididas por Dave Abruzzese –que saiu do grupo– e Jack Irons. Mas isso não influi muito na sonoridade.
Dentro da geléia do disco, não há pérolas, apenas algumas boas músicas. A maioria graças aos vocais de Vedder. "Not For You" é uma delas, embora exale um bolor grunge. Mas resta ao Pearl Jam empunhar a bandeira do movimento depois do passamento do Nirvana. "Last Exit" abre "Vitalogy" com alusões ao fim trágico de Kurt Cobain.
Eles soam melhor quando soam simples. É o caso das lentas "Nothing Man" e "Immortality". Ou da roqueira "Satan's Bed", com bons fraseados de guitarra. Ou na faixa seguinte do álbum, "Better Man".
Em alguns momentos do disco, a rapaziada se aventura a fazer algo diferente e erra a mão. É o caso de "Bugs", onde Vedder toca acordeom. Mas "Stupid Mop" ultrapassa o suportável em seus mais de sete minutos de tortua sonora. Há outras bobagens, como a vinheta "Pry, To" e a repetitiva "Aye Davanita".
Na verdade, de pouco adianta a postura anticomercial do grupo, que se envolve em causas politicamente corretas –eles compraram a briga pela legalização do aborto, por exemplo, como mostra o encarte do disco.
A luta para que os preços dos ingressos baixem nos EUA e a idéia de lançar "Vitalogy" primeiramente em vinil acabam virando marketing de gravadora.
O punk já mostrou que não há como se manter imaculado por muito tempo.

Disco: Vitalogy
Banda: Pearl Jam
Lançamento: Sony
Preço: R$ 18 (o CD, em média)

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