São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Mais guerra santa

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Guerra Santa" foi a forma encontrada pelo Aqui Agora, sempre com ironia, para falar da demolição de uma igreja em São Paulo, solicitada pelo prefeito e ordenada ontem pela Justiça. Uma demolição que provocou grande "protesto", segundo a Bandeirantes.
Guerra santa seria a expressão mais apropriada para o conflito mostrado por Fábio Pannunzio no Domingo 10, também da Bandeirantes. Protestantes históricos atacando pentecostais, pentecostais atacando católicos e daí por diante. "No fundo, no fundo, uma grande batalha de mercado", segundo o correspondente da Bandeirantes, logo de início.
O quadro que veio na sequência, quase todo mercantilista, confirmou a opinião. Por exemplo, quando a Igreja Universal, o alvo da noite, foi lembrada por cobrar dinheiro dos fiéis para que os nomes deles estivessem num manto a ser levado até Jerusalém.
Ou quando apareceu uma frase de Ronaldo Didini, o pastor-âncora do 25ª Hora: "O dinheiro não é algo do diabo, o dinheiro é de Deus." O mesmo aproveitou para atacar a Igreja Católica, dizendo que "não é uma igreja cristã, não professa o cristianismo", e acrescentando que "95 será o ano de maior crescimento da Igreja Universal, isso está determinado em nome de Jesus Cristo".
A profecia, com gestual retumbante, surge como uma reação à ameaça da rede católica, que entra no ar em março. O assunto não foi tratado no Domingo 10, a não ser indiretamente, pelo padre Fernando Altenair, dizendo que "não é para competir com ninguém –nem para fazer um jogo de poder entre as televisões, nem entre as igrejas".
Depois o padre acrescentou, "nós não queremos guerra". Pode ser, mas ele também deixou escapar uma crítica aos "fundamentalismos" com referência indireta aos pentecostais.
O que o correspondente chamou de "boom evangélico" levou 36 novos deputados para Brasília. "Uma bancada respeitável, pelo menos do ponto de vista numérico, porque em matéria de comportamento político ela parece estar sempre longe dos preceitos cristãos."
Não que os católicos do Congresso, a maioria, estejam perto dos mesmos preceitos.

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