São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Diferenças regionais e culturais prejudicam estabilidade econômica

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil que tenta estabilizar sua economia tem nas diferenças regionais e culturais um sutil inimigo do processo.
Belém do Pará, Norte do país, teve inflação de 4,15% em novembro. Porto Alegre, Sul do Brasil, fechou o mesmo mês com índice de 1,92%.
Entre as duas cidades –além dos 3.854 quilômetros que as separam– há uma diferença de 2,23 pontos percentuais na inflação.
Só esta disparidade é maior do que a inflação apurada em Salvador (BA): 1,79%.
A diferença de inflações é explicada pelo peso de cada produto no índice, pelo local de coleta de preços e pela metodologia de cada instituto, diz Vanderlei Ramalho, supervisor técnico do Ipead (Instituto de Pesquisas Econômicas, Administração e Contábeis) da Universidade Federal de Minas Gerais.
Um exemplo é a farinha de mandioca que, no IPC-r do IBGE, tem peso de 0,13% no Rio de Janeiro e de 2,98% em Belém.
Eulina Nunes dos Santos, do IBGE, diz que se o preço da farinha aumentar 10%, terá impacto mínimo na inflação do carioca (mais 0,01%). Mas será muito notada pelo belenense, com aumento de 0,30% no custo de vida.
O aluguel é outro exemplo de como certos itens têm importância maior ou menor conforme a cidade brasileira. Eulina calcula que uma alta de 10% na mensalidade acarreta aumento de 1,06% na inflação do paulista e de 0,30% em Belém.
As peculiaridade dos índices também estão expressas no vestuário, que impacta mais o custo de vida dos gaúchos e curitibanos, no inverno, segundo o IBGE.
Nestas duas cidades, o peso no vestuário é de 14%. Belo Horizonte e Rio de Janeiro, e não o Nordeste como se pensa, têm os menores pesos para o vestuário –10% na escala do IBGE.
O Rio de Janeiro é o único Estado brasileiro a sentir no bolso os aumentos no preço do feijão preto. Com peso de 1,3% para os cariocas, o feijão preto só aparece nas cidades de Porto Alegre e Curitiba com pesos mínimos.
O açúcar cristal, praticamente desconhecido da região Sudeste, influencia as inflações do Nordeste, com pesos de 1,4% (Recife), 1,07% (Salvador) e 1,0% (Fortaleza). O produto não aparece em São Paulo e Rio e tem peso de 0,4% em Belo Horizonte.
Na capital do Pará, o grupo alimentação tem maior peso (44%) entre as 11 cidades em que o instituto calcula o IPC-r. Goiânia (GO) tem o menor peso: 30%.
Em São Paulo, diz Juares Rizzieri, da Fipe/USP, a inflação se caracteriza por maior peso em itens típicos de uma região metropolitana, como alimentação fora de casa (2,56%), pizza (0,4%) e frango assado (0,18%) comprado em padaria.
O macarrão tem participação de 0,36% no índice paulista da Fipe.

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