São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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O câmbio sem discussão

LUÍS NASSIF

Desde dezembro praticamente não há mais discordância na equipe econômica sobre a política cambial. A culpa de se manter a confusão é a delicadeza do tema –que não recomenda manifestações públicas da parte do governo–, o desaparelhamento inicial da área de comunicação dos ministérios, e a vontade de se fazer marola por parte de palpiteiros.
A questão do câmbio deve ser entendida da seguinte maneira, conforme antecipou a edição desta semana do "Guia Financeiro" da Agência Dinheiro Vivo:
Consenso 1 – A queda abrupta de 15% no valor do dólar decorreu de erro operacional, na fixação das tais "bandas" cambiais.
Definiu-se um modelo com limite de alta para o dólar, e nenhum limite de baixa. Simultaneamente, permitiram-se taxas de juros internas maiores que as externas. O diferencial de juros produziu um excesso de dólares, que derrubou seu valor. Para impedir a queda, o Banco Central precisaria entrar comprando dólares. Mas os especuladores sabiam que ele estava de mãos amarradas. porque para comprar dólares precisaria emitir reais, estourando as metas de emissão de moeda.
Consenso 2 - A idéia de produzir um déficit em transações correntes (movimento comercial, mais pagamento de royalties, juros e seguros) da ordem de 6% do PIB já foi abandonada.
A equipe econômica de fato pretendia gerar esse déficit. Seria a maneira de abrir espaço para o ingresso de dólares de investimentos externos.
Ocorre que a ampliação dos déficits comerciais tornaria o país cada vez mais dependente dos investimentos externos. Quanto maior essa dependência, maior seria a insegurança dos investidores externos. Quando o primeiro decidisse dar o fora, o país quebraria, pela impossibilidade de restabelecer rapidamente os superávits comerciais –que levam anos para serem formados.
A quebra do México encarregou-se de uniformizar a discussão entre gregos e troianos. Não há mais dúvidas sobre a necessidade de restaurar os superávits comerciais.
Consenso 3 - Não se pode pretender compensar a defasagem do câmbio com reajuste imediato do dólar.
Dois motivos não recomendam esse ajuste na taxa. O primeiro, por suas óbvias implicações inflacionárias. O segundo, por produzir um estouro da boiada nos investidores externos, semelhante ao do desastre mexicano. Não existe nenhuma mente sadia neste país que esteja recomendando o ajuste rápido na taxa de câmbio.
Consenso 4 - A única maneira de compensar essa defasagem, e impedir o aprofundamento dos déficits comerciais, será acelerar o conjunto de reformas que reduzam o chamado "custo Brasil".
Estes são os fatos e a lógica. Nem se vai aprofundar mais a defasagem, nem se vai reduzi-la através de ajustes abruptos no câmbio. O resto são marolas.

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