São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Universitários acham prova uma "viagem"

PAULO HENRIQUE BRAGA

PAULO HENRIQUE BRAGA; LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudantes e pessoas graduadas em cursos da área de humanas da USP, ouvidos ontem pela Folha, acharam o tema da prova de redação difícil demais para um aluno recém-saído do segundo grau.
"Isso é uma viagem. Eu não conseguiria fazer. Ia transpirar e passar mal no meio da prova", diz Fábio Kerche, 23, formado em Ciências Sociais pela USP. Ele disse não conhecer o filósofo francês Alain Badiou.
Segundo ele, a "obscuridade" e complexidade do tema poderiam levar o aluno a ficar preocupado demais em descobrir do que tratavam os textos, não conseguindo fazer uma redação criativa.
"O objetivo da redação deveria ser avaliar a capacidade de sintetizar o pensamento e de se comunicar do aluno, o que fica difícil nesse caso", afirma Kerche.
Ana Teresa Ribeiro, 24, formada em Filosofia pela USP, achou o tema da prova "elitista".
"Quem fez colegial em escola pública nunca ouviu falar em nada disso. A Fuvest deveria adotar temas mais básicos e acessíveis, coisas que efetivamente façam parte da vida do aluno", reclama.
Além disso, ela achou a proposta de redação inadequada.
"É um tema que deveria ser pensado sem tensão. No vestibular, você tem que criar um texto sabendo que está sendo julgado por um monte de coisas ao mesmo tempo", argumenta.
Já a estudante do terceiro ano de História da USP Juliana Simão, 19, acredita que os vestibulandos da área de exatas foram os que tiveram maior dificuldade para fazer a redação.
"Se você, por exemplo, fez um colegial técnico, pode nunca ter visto filosofia na vida", diz.
Segundo ela, todos os seus amigos que prestaram vestibular no domingo acharam a prova difícil.
Outro lado
"É claro que um filósofo escreve um tratado por linha. Há muitas maneiras para o candidato elaborar o tema da redação", afirma o vice-diretor da Fuvest, José Atílio Vanin, 50.
Segundo ele, a banca examinadora vai ler inicialmente cerca de cem textos antes de começar a correção. "A partir daí é que ela vai elaborar critérios de correção."
Vanin explica que uma das idéias da Fuvest ao elaborar o tema foi apresentar uma proposta que tornasse impossível para o candidato levar para o exame um texto pronto de casa.
"A idéia era que ele produzisse um texto lá, naquela hora. Se ele escrevesse sobre o desempenho do Romário na Copa do Mundo, certamente tiraria zero", diz. Para ele, "a beleza é ter um critério flexível".

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