São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Selo Paulus aposta em clássicos brasileiros

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O selo Paulus acaba de lançar sete CDs com gravações feitas por instrumentistas, maestros e cantores brasileiros.
Com dois anos de atividade e um catálogo de 50 títulos, essa divisão da Pia Sociedade de São Paulo trabalha contra a corrente do mercado, pois edita um tipo de produto que seria desprezado pelas grandes gravadoras.
As "majors" sempre deram pouca atenção à música erudita produzida no Brasil. Com isso, os músicos nacionais não encontram espaço para veiculação de seus trabalhos. E não é por falta de talento, conforme demonstra o pacote do Paulus.
Já estão nas lojas os seguintes títulos nacionais do selo: "Trios para Fortepiano, Flauta e Violoncelo", com Pedro Persone (piano), Bernardo Toledo Piza (flauta) e Maria Alice Brandão (violoncelo); "Música Francesa para Cravo", com Pedro Persone; "O Cravo Romântico de François Couperin", com Roberto de Regina; "Memorable Strings", com Perez Dworwcki (viola) e Fritz Jank (piano); "Jóias da Música Antiga", com Quarteto Angra; "Fábulas de Amaral Vieira", com Paulo Gazzaneo (piano); e o principal lançamento, "André da Silva Gomes", obras do mestre-de-capela da Sé de São Paulo do século 18 pelo grupo Brasilessentia e a organista Elisa Freixo. O disco é resultado de 35 anos de pesquisa de restauração do musicólogo Régis Duprat (leia texto abaixo).
A marca Paulus substituiu em 1993 as Edições Paulinas. A Pia Sociedade é uma congregação religiosa católica fundada na Itália em 1914. Tem como objetivo divulgar religião e cultura junto aos meios de comunicação. A filial de São Paulo possui uma gravadora, uma editora e 12 livrarias espalhadas pelo Brasil. Há filiais da Pia Sociedade em 24 países, com idênticas propostas.
Mesmo sendo um selo sacro, a maior parte do catálogo abrange música profana. Parte dele é alimentado pela gravadora Hungaroton, de Budapeste, com a qual o selo assinou um contrato de exclusividade em 1993.
Nesta semana, Paulus lançou três títulos do selo húngaro: as "Fantasias Húngaras", de Liszt, com a Orquestra Sinfônica de Szeged, "Madame Butterfly", CD duplo com o tenor tcheco Peter Dvorsky e a Orquestra Sinfônica da ópera do Estado Húngaro regida por Giuseppe Patané, e os "12 Concerti Op. 8", de Vivaldi, álbum duplo com a Orquestra de Câmara Ferenc Liszt.
"Diferentemente de outras gravadoras, só lançamos registros de qualidade e sem fins lucrativos", diz frei Lucas (José da Silva Araújo), coordenador e produtor do Paulus. O que não o impede de comercializar os discos a preços de mercado. "Temos que nos defender no campo comercial, já que não recebemos subvenções ou patrocínios de parte alguma. Vivemos com o trabalho da congregação." Explica que o lucro não veio, mas o selo consegue se sustentar.
Cada título tem tiragem de mil cópias. Para frei Lucas, o CD é um dos veículos mais poderosos de transmissão de idéias, e estas não devem necessariamente ser catequéticas: "Prestigiar a produção local é prestar um serviço à cultura que não consegue chegar ao mercado pelas vias normais", diz.
Ele próprio entra em contato com músicos para discutir repertórios e concepções. Até o fim do ano, quer editar em CD 40 títulos, entre os da Hungaroton e os de produção local.
As gravações nacionais trarão títulos inéditos, como os "Noturnos de Natal" e a "Missa a Oito Vozes", ambas obras de André da Silva Gomes.
O cravista Roberto de Regina gravará em álbum triplo os 16 concertos para cravo solo de Johann Sebastian Bach. O Barros Classical Consort, grupo estreante liderado pelo pianista Max Barros, está gravando nos EUA, especialmente para o Paulus, a integral das "Sonatas a Tre", de Luigi Boccherini.
O projeto do selo para este ano é criar uma coleção de MPB instrumental. "Vamos até onde nossos fundos permitirem", jura frei Lucas. "Assumimos o risco."

Selo: Paulus
Onde: r. Francisco Cruz, 229, tel. 011/575-7362, fax 011/570-3607, Vila Mariana, zona sul); aceita pedidos de CDs e envia catálogo por reembolso postal
Quanto: R$ 18 (o CD)

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