São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Discussões apontam caminhos da moda

ERIKA PALOMINO
DA REDAÇÃO

Para comemorar seu primeiro ano, a página Atitude, publicada de quinta a sábado na Ilustrada, realizou em novembro uma série de debates sobre assuntos ligados à moda.
Durante três dias, os debates discutiram os temas "Marketing e o Aspecto Comercial da Moda", "Tendências, Vanguardas e Modernidades" e "Moda Brasileira". Com patrocínio das microfibras Meryl e Setilla, da Rhodia, os debates tiveram participações de estilistas, empresários, jornalistas e fotógrafos de moda.
Dando início à temporada de desfiles outono-inverno, que começa no próximo dia 23 com o desfile da Ellus, Atitude publica a partir de hoje e nas próximas duas sextas-feiras os melhores momentos destes debates.
O debate publicado hoje, "Tendências, Vanguardas e Modernidades" foi mediado pela colunista da Folha, Erika Palomino, e reuniu os estilistas Reinaldo Lourenço e Alexandre Herchcovitch, o produtor Pazetto, o fotógrafo Cristiano e o editor de arte da Revista da Folha, Edu Brandão.

Tendências
Reinaldo Lourenço - Eu acho que moda e modernidade é estar ligado em tudo. Tudo pode inspirar. Acho que a informação hoje em dia é a coisa mais importante da moda. A expressão é uma individualidade. A pessoa que cria já tem o seu jeito de criar. O resto é olhar para as coisas lá fora e aqui de dentro e criar a sua coleção. Acho que modernidade é você estar aberto para tudo, é ser inquieto, pensar em sempre fazer o novo, porque não adianta querer pensar no passado. O passado é para a gente aprender e o futuro é para a gente olhar.
Alexandre Herchcovitch - Quando a gente está num país que está olhando para tudo o que está lá fora, a gente só espera que venham coisas que estão acontecendo lá fora, como por exemplo, cores. Agora está tendo um "boom" das cores, você vai comprar tecido e só encontra coisas coloridas. Então, fatalmente, você vai acabar trabalhando com tecidos que "são tendências internacionais".
Pazetto -Acho que a coisa mais importante em relação à tendência é fazer com que ela não seja um fantasma. Ela deve cooperar com o trabalho, se transformar em uma ferramenta, e não atrapalhar.
Cristiano - As pessoas falam em elitização como uma coisa negativa, mas eu acho que ela pode ter um aspecto positivo. Eu, por exemplo, gosto de fazer fotografia em preto-e-branco e tem gente que gosta de foto colorida. A revista pede foto colorida para você e você quer fazer em preto-e-branco, mas no final você tem que fazer. Acho que a elitização no mundo da moda é um estímulo, um passo que as pessoas têm que dar.

Técnica
Lourenço - Existem indústrias que fazem roupas e estilistas. O certo é o estilista cortar, saber modelagem, saber até costurar, fazer maquiagem, dar o look certo. Isso é ser um estilista de verdade. Por exemplo, eu faço a minha modelagem. A técnica está no estilista.
Herchcovitch - Estou passando por uma fase em que faço até camisetas em acabamento de alta costura. É uma coisa que não se pode fugir. Hoje temos máquina para tudo, sendo que a gente também tem mão. As mãos dos estilistas antigamente fizeram tudo o que as máquinas estão fazendo agora. E faziam melhor, porque máquina não tem sentimento.
Tenho na minha arara 200 peças exclusivas e 20 saínhas idênticas. Vendem as 20 saínhas idênticas, mas eu não vou deixar de fazer o que eu penso que eu gosto, entendeu? Nem que eu tenha que ganhar R$ l mil por ano.
Lourenço - Quanto dura o ciclo da modernidade? Um ciclo é trabalhar na mão, fazer um vestido, que nem eu tenho feito agora na minha loja. E tem um outro ciclo que é a tecnologia, talvez você fezer roupa em série mesmo e barata, assim, uma camiseta por US$ 3. Quem sabe o futuro não é isso?

Escolas de moda
Herchcovitch - Eu comecei este ano um ciclo de palestras por todos os cursos de faculdade de moda do Brasil inteiro. O ano que vem eu começo dar aula no Senac e em meu ateliê a cada dois meses eu estou recebeno estagiário. Isso é o que eu posso fazer agora.
Edu Brandão - Eu acho que isso depende de você e de você. Que a faculdade está ruim? Depende. Sou fotógrafo, cheguei aqui, vi milhões de deficiências na fotografia, fui dar aula também, dividi. Então, depende de você que está no mercado.

Moda de rua
Lourenço - Para mim é assim: o que de repente uma velhinha pode estar usando, pode me dar vontade. De repente ela está com uma cava bem pequenininha, apertada eu olhar, achar bonito, vou fazer. É roubar da rua para criar minha coleção. Não fazer da rua. O estilista está antenado, ele fica sempre olhando tudo. De repente ele vê uma placa que o inspira, um papel no chão, acha bonita aquela cor.
Pazetto - Quando o estilista trabalha, dentro do limite dele, eu deduzo que, além de todas as coisas que ele tem como informação de tendência, ele também tem a rua. Ele também vai para a rua e transfere isso para a realidade do público que ele vai vender. O trabalho não é desenvolvido para que ele possa ganhar o mundo, mas é inspirado para que todas as pessoas vejam.
Lourenço - Se você quiser se inspirar no Brasil até pode. Você pode se inspirar num grafismo, pode se inspirar numa pena de um índio, pode se inspirar em qualquer coisa. Tudo é moda, tudo é informação. Gente, a gente está vivendo uma época de informação. Aconteceu um desfile na Europa e logo a gente já sabe o que está acontecendo aqui. A gente é cidade do mundo. São Paulo é uma metropole, pelo amor de Deus. Eu nunca vou fazer moda brasileira. Eu quero ser um brasileiro que faz moda.

A colunista Erika Palomino está em férias durante o mês de janeiro. A coluna Noite Ilustrada volta em fevereiro.

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