São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Perguntem ao povo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Até anteontem, tudo ia bem com a Operação Rio. Mas caiu o helicóptero e os soldados saíram batendo em fotógrafo. Ontem, o tom já era bem outro, no rádio e na televisão.
Na CBN, por exemplo, a prioridade de cobertura foi que "aumentam as denúncias de violência do Exército". Para a âncora do Jornal da CBN, isso "prejudica muito a boa imagem do Exército".
Outro exemplo, até mais raivoso, foi o da Manchete, que é uma rede de televisão baseada no próprio Rio.
Foram críticas como "a truculência está de volta", uma referência, ao que parece, ao regime militar, e denúncias tipo "repórteres foram espancados e ameaçados de morte".
Moradores do Complexo do Alemão surgiram na televisão dizendo que "está havendo choque elétrico e tortura psicológica" ou gritando, "bateram no meu irmão, torturaram o meu irmão".
Foi manchete em todo lado, como no TJ, que já abriu anunciando, "ministro do Exército vai apurar denúncias de excessos". Depois de uma pequena pausa, "mas pede para que se vejam também os benefícios da operação anticrime".
Nas palavras do próprio ministro Zenildo de Lucena, em sua tumultuada entrevista, cercado de todo lado, com as perguntas dos repórteres se sobrepondo umas às outras:
– Veja os benefícios que tem trazido para o Rio... As pequenas coisas nós apuraremos e, se for o caso, tomaremos as providências... Olhem a grandeza da operação... Perguntem ao povo do Rio.
"Perguntem ao povo..." O apoio dos cariocas e o êxito das ações militares, tão lembrados desde o início da Operação Rio, aparecem pela primeira vez como argumento de defesa. Começam a perder o fôlego, claramente.
Na frente
– O PFL sai na frente e entrega o projeto para a reforma da Constituição.
A manchete do Jornal da Record dá bem a idéia de onde está a vanguarda, por assim dizer, do governo de Fernando Henrique.
Enquanto os pefelistas avançam com a bandeira da privatização, que na revisão constitucional já surgia como o nó dramático da política no Brasil, hoje em dia, o restante do governo prefere a liberalização da maconha.

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