São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Guerra" do tráfico começou há dois anos

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Civil diz que o início da "guerra do tráfico" no complexo do Alemão foi quando a facção criminosa CV (Comando Vermelho) decidiu unificar o controle da venda de drogas no Rio.
Esta decisão, segundo o diretor da DRE, delegado Maurílio Moreira, foi tomada há dois anos. O CV teria resolvido que um único "chefão" mandaria em cada grande região carioca.
Desta forma, Ernaldo Pinto de Medeiros, o "Uê", seria o escolhido pela organização criminosa para dominar as bocas-de-fumo nas favelas da região da Leopoldina, que abrange bairros populosos como Penha, Olaria, Ramos, Inhaúma, Bonsucesso e Vicente de Carvalho.
O problema é que os traficantes das favelas que compõem o complexo do Alemão resistiram à idéia de ceder seus domínios a Uê, que até então só controlava o morro do Adeus, em Ramos.
Uê teria sido "eleito" por ser amigo de José Carlos dos Reis Encina, o "Escadinha", uma das supostas lideranças carcerárias do CV.
O primeiro a se rebelar contra Uê foi Orlando da Conceição, o "Orlando Jogador", que até ser morto, há quase um ano, controlava o tráfico em todo o complexo.
Apesar da morte de Jogador, Uê não conseguiu a hegemonia da área. Surgiram novas lideranças como "Macarrão Sem Braço", na favela Nova Brasília, e Aldair Cabral Mangano, o "Nem Maluco", nos morros da Caixa D'Água e da Quatro Bicas.
Após dezenas de mortes –nem a DRE sabe quantos supostos traficantes morreram ao longo de quase um ano de tiroteios–, entre elas as de Macarrão Sem Braço e de Nem Maluco, Uê estaria, finalmente, com a grande chance de dominar todo o complexo.
Para assumir o controle dos pontos de venda de cocaína e maconha das 13 favelas do complexo do Alemão, bastava que Uê derrotasse o sucessor de Nem Maluco, que a polícia identifica até agora pelos apelidos de "Sexta-Feira Treze" ou "Semanal".
Sexta-Feira Treze teria mantido o morro das Quatro Bicas e a Vila Cruzeiro sob o domínio de traficantes que formavam a quadrilha de Nem Maluco. Para a DRE, ele não tem poderio suficiente para manter a briga com Uê por muito tempo.
O surgimento das Forças Armadas no complexo do Alemão, na megaoperação iniciada anteontem, forçou o "recuo" de Uê e Sexta-Feira Treze.
Até as tropas militares deixarem as favelas, não se saberá quem é o novo "chefão" da área.

Texto Anterior: Morador diz que teve casa invadida
Próximo Texto: Exército quer apurar denúncias
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.