São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Mizrahi prega fim da rivalidade na moda

EVA JOORY
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK

O estilista americano Isaac Mizrahi, 33, sempre fez questão de se manter afastado do hype criado em torno da moda americana. Hoje, é um dos nomes de maior prestígio no seu país.
Durante oito anos trabalhou com estilistas consagrados como Perry Ellis e Calvin Klein. Começou cedo, aos 17 anos. Aos 25, decidiu batalhar pelo seu maior sonho e montou seu ateliê sozinho. Fez seu primeiro desfile, em 88: "Nunca sonhei em ver editoras de moda poderosas como Anna Wintour e Grace Mirabella na primeira fila do meu desfile", conta Mizrahi em entrevista exclusiva à Folha, no seu ateliê no bairro do Soho. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Como você vê o hype em torno do mundo da moda?
Mizrahi - Antigamente, a idéia de fazer um desfile glamouroso era uma exceção. As pessoas vinham para ver qualidade e luxo. Agora virou uma coisa corriqueira. Se você não faz um megadesfile, ninguém se interessa em ver. O circo dos desfiles não é nada civilizado. Acho que está na hora de mudar isso.
Folha - É a idéia da simplicidade também nos desfiles?
Mizrahi - Não é bem simplicidade, porquê isto implicaria minimalismo. É uma questão de civilidade. Entrar num desfile de moda hoje é uma briga de egos.
Folha - Você acha que a moda está no seu melhor momento?
Mizrahi - Está chegando lá. A moda, no sentido de uma indústria aqui nos EUA é uma coisa bastante recente.
Folha - Você acha que agora a moda americana está pronta para competir com a européia?
Mizrahi - Não acho que deva haver uma competição. Tínhamos uma relação nos anos 20, 30 e 40 que foi interrompida com a guerra. Daí a necessidade de uma moda com caraterísticas americanas. O que me deixa louco é ver que preparamos uma coleção durante meses e vemos as mesmas idéias nas temporadas européias, que acontecem duas semanas antes. Mas acho que temos qualidades específicas em cada país e que cada um tem o direito de escolher.
Folha - Como define estilo?
Mizrahi - Estilo é a união de duas idéias: ser apaixonado e não ter medo. Pouca gente tem e quem tem quase nunca sabe que tem. Os negros aqui têm muito estilo.
Folha - E a técnica?
Mizrahi - O único jeito de adquirir técnica é aprender muitas técnicas para depois destruí-las e criar a sua própria. Você pega o que precisa do passado e depois joga fora o resto. É isso que torna um estilo moderno.
Folha - Suas roupas sempre levaram em conta a idéia de glamour. Como você vê esta volta?
Mizrahi - Agora é um novo tipo de glamour. É uma espécie de recuo contra as waifs (modelos magras), contra a idéia desconstrutivista e contra a soberania do preto. Tudo na moda é um recuo, mas para mim não é. Minha moda sempre foi mais quieta.
Folha - Acedita que foi a sua geração quem deu visiblidade à moda americana?
Isaac Mizrahi - Não vejo o despertar da moda americana como um movimento. Não me vejo na turma dos jovens e também não me vejo na velha escola de moda. Quando decidi montar minha própria companhia, segui meu impulso. Trabalhei oito anos para outros estilistas e quando cheguei aos 25, decidi que estava na hora de parar.
Folha - Como isto aconteceu?
Mizrahi - Não gosto de planejar nada. Posso ser agressivo no trabalho, mas tenho aspirações, sonhos. Sou muito mais fascinado por roupa do que por marketing. Continuo apaixonado pela idéia de desenhar roupas. Nunca me canso. É a indústria da moda que me deixa doente.
Folha - Quem é a mulher que veste Mizrahi?
Mizrahi - Não é uma pessoa moderninha. Ela tem em torno de 30 anos e trabalha. É uma mulher educada e apaixonada por qualidade, mais do que por moda. Conforto é fundamental para ela. É uma mulher que quer se vestir como mulher e não como homem.
Folha - É difícil não acompanhar as tendências?
Mizrahi - Para mim é mais difícil tentar correr atrás delas. Nunca me habituei com a idéia das waifs.
Folha - É difícil para o americano gastar com roupas?
Mizrahi - Preço é relativo. Sempre vai existir uma cliente que vai querer roupas exclusivas. Minhas roupas vendem. Gostaria de ter uma atitude européia e dizer "Gap é nojento". Mas na verdade, acho bem melhor que muita moda que se faz na Europa, onde muita coisa é irrelevante, parece mais fantasia. Na verdade, amo coisas comuns. O único luxo que aprecio é aquele que eu crio.

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