São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Cinema se sofistica para tirar público de casa

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

O público consumirá a maior parte de seus produtos de diversão em casa, através de megatelas interativas de TV ou supersistemas integrados computador/drive de CD-Rom/ modem/linha telefônica digital, segundo a pesquisa encomendada pela Kodak.
Mas os cinemas, em vez de desaparecer, se tornarão cada vez maiores, mais sofisticados e mais espetaculares, oferecendo experiências mais próximas dos parques de diversão que propriamente de uma sessão cinematográfica.
O objetivo do estudo, diz o pesquisador Soren Kaplan, que coordenou o projeto, era "ter uma visão clara, prática e objetiva do que o futuro imediato reserva às grandes empresas americanas do ramo das comunicações e entretenimento. Queríamos ter uma visão precisa, mas também abrangente, que visse o futuro além dos horizontes exclusivos dos Estados Unidos."
Os resultados foram, em parte, previsíveis –a maioria dos que responderam, por exemplo, acredita que os níveis de violência urbana e desconforto nas grandes cidades vão continuar subindo e, com eles, o desejo do público de ficar em casa.
Mas também não faltaram surpresas, por exemplo: a produção inteiramente digital de filmes e programas de TV, que é tecnicamente possível hoje em dia e foi usada, em parte, em filmes como "Parque dos Dinossauros" e "Forrest Gump", não deverá ser amplamente utilizada na primeira década do novo século.
Custo é um fator, mas, acima de tudo, respondeu um dos experts, existe "o fator psicológico: a indústria do cinema tradicionalmente resiste a mudanças muito vastas e muito radicais. A idéia de rodar um 'filme' sem filme dentro da câmera é algo ousado demais para a maior parte da indústria. O filme é um material que dá uma sensação de conforto ao cineasta e produz uma textura de imagem que nenhum outro meio ainda foi capaz de reproduzir".
(A Kodak, no dilema entre diminuir ou aumentar sua produção de película cinematográfica, deve ter ficado mais confusa que esclarecida com esta conclusão).
O predomínio tanto dos mercados exteriores como da produção americana nestes mercados também era esperada –mas a leitura que os experts deram deste elemento é mais complexa.
O mercado interno americano, responderam, está saturado e vai começar a encolher na virada do século –o que diminui a importância do seu gosto sobre os produtos feitos aqui.
"Mais e mais, um produto –filme, jogo ou série de TV– terá que ir ao encontro dos gostos do mundo para fazer sucesso e compensar financeiramente", disse um dos consultados.
"Astros com boa receptividade internacional (como Harrison Ford, Mel Gibson e Arnold Schwarzenegger) têm muito mais chances de sobreviver no novo século do que artistas que agradam apenas o gosto americano (como Steve Martin, Roseanne ou Chevy Chase)", concluiu.
A temática pode mudar radicalmente, disse outro expert –"podemos passar a ter produções feitas sob encomenda para determinados mercados, ou o licenciamento de personagens e histórias criadas por companhia americanas para produções estrangeiras. A Disney poderia, por exemplo, licenciar os personagens do 'Rei Leão' para que uma produtora indiana faça outra versão da história, mais ao gosto do seu público."
A pesquisa –intitulada "O Ano 2000 na Indústria do Entretenimento"– está sendo utilizada pela Kodak para "formular estratégias de produção, distribuição e marketing para as primeiras décadas do novo século."
(AMB)

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