São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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'Trem seguiu ensanguentado'

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
DA REDAÇÃO

Três brasileiros estavam no trem no momento do atentado e por pouco não foram atingidos.
"Estávamos iluminados, demos sorte, muita sorte mesmo", disse o turista Léo Steinbruch.
Ele e dois amigos que vivem em Israel –Gérson Lerner, 21, e Sandra Bromberg, 26– estavam em uma cabine que tem comunicação com a que ocupavam as duas argentinas feridas.
Na hora do ataque, eles estavam no vagão-restaurante. Um dos tiros passou a não mais de um palmo da garota que estava conosco, afirmou Steinbruch, 26. Ele falou à Folha de um hotel no Cairo, por telefone.

Folha - Quantos brasileiros havia no trem?
Léo Steinbruch - Eu fui para Israel encontrar dois amigos brasileiros que estão morando lá por um ano. Nós estávamos voltando do sul, no trem de Assuã para o Cairo. Pegamos o trem das 16h (12h em Brasília).
Folha - Onde estavam na hora do ataque?
Steinbruch - Estávamos no bar, no vagão-restaurante. Só nós estávamos lá na hora, e eu estava bebendo uma cerveja. Começamos a ouvir barulho e, quando demos conta de que eram tiros, deitamos no chão. Ficamos assim por dois ou três minutos.
Quando voltamos para nossa cabine, o trem estava cheio de tiros por todos os lados. As balas atravessaram a lataria de um lado e saíram pelo outro.
As duas argentinas que estavam na cabine ao lado da nossa estavam muito ensanguentadas. Elas foram feridas pela mesma bala.
Depois de uns dez minutos apareceram uns homens em roupas civis e armados de metralhadoras e abriram a porta.
Aí eu pensei: A gente vai morrer. Mas um dos homens passou a mão na nossa cabeça e disse que elas seriam levadas para a próxima estação, para um hospital.
Folha - Nenhum de vocês ficou ferido?
Steinbruch - Não. Mas, quando voltamos para o bar do trem, um dos tiros passou a não mais de um palmo da garota qua estava com a gente. A mais um metro, outro tiro. Nós contamos sete.
Demos sorte, muita sorte. O vagão-restaurante era o único onde os passageiros poderiam ser vistos, uma vitrine. Eles devem ter mirado, mas erraram.
Folha - Houve proteção durante o restante da viagem?
Steinbruch - Não. Ficamos parados por mais de cinco horas e a viagem continuou no mesmo trem, todo ensanguentado. Nossas roupas estavam cheias de sangue. Ninguém perguntou nossos nomes.
Folha - Tiveram informações das argentinas?
Steinbruch - Estão em um hospital no Cairo. Uma delas já teve alta e disse que no hospital de Qena não havia nem água, as condições eram as piores possíveis.
Foram levadas de perua até Luxor e lá, só depois de um escândalo, vieram de avião para o Cairo.

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