São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Novo premiê da Itália quer governo de 'notáveis'

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL *

A Itália aposta em um tecnocrata para substituir um empresário e magnata da imprensa como primeiro-ministro do país.
O presidente italiano, Oscar Luigi Scalfaro, deu ontem ao economista Lamberto Dini a tarefa de tentar formar o 54º governo do país desde a Segunda Guerra.
Dini prometeu um governo técnico, só de notáveis. Pela primeira vez os partidos ficariam fora da formação do ministério.
Segundo ele, os critérios de seleção serão exclusivamente "a capacidade e o profissionalismo".
Dini é ministro do Tesouro do governo demissionário de Silvio Berlusconi. Caso ele não consiga formar um novo governo, o país deverá ter eleições antecipadas.
O Parlamento italiano se encontra atualmente fragmentado em pequenos e médios partidos, muitos deles de formação recente.
Divergências entre eles levaram à dissolução da coalizão de Berlusconi e estavam dificultando a indicação de um novo premiê.
O que restou do grupo de Berlusconi exigia a indicação do empresário para um novo mandato. Ou então, eleições imediatas.
Os partidos de oposição –liderados pelos ex-comunistas do PDS e ex-democratas cristãos do PP– recusavam tanto um Berlusconi 2 como a antecipação de eleições.
Próximo à oposição, Scalfaro encontrou um nome fora do mundo político capaz de vencer a resistência do grupo de Berlusconi.
Amigo do premiê demissionário, Dini é respeitado na Itália e tem o apoio da oposição.
Apesar de ter dado sinal verde a um governo Dini, Berlusconi exige eleições logo. O premiê indicado não se comprometeu com isso.
Na Itália não é preciso ser político profissional para virar premiê. O presidente escolhe um nome qualquer e consulta os partidos.
Dini agora deve preparar seu ministério e submetê-lo ao Parlamento. Se conseguir aprovação da maioria, ele pode assumir o cargo.
Como a maioria do Parlamento não quer eleições antecipadas, Dini pode conseguir formar seu ministério de notáveis. Os partidos não teriam como recusá-lo.
O único partido que já se declarou contra Dini foi a Refundação Comunista, de extrema esquerda.
Junto com ele, o grupo de Berlusconi pode tentar vetar o governo Dini e provocar as eleições. Scalfaro aposta que ele não ousará.
Com a aprovação quase certa de Dini, resta saber por quanto tempo durará o novo premiê. Será um governo de transição, curto, diz a imprensa italiana. Mas pode durar tanto três meses (como quer Berlusconi) como um ano.
"Só um breve retorno às urnas pode criar uma coalizão capaz de garantir plena estabilidade e autoridade política", disse Berlusconi.
"Vai correr tanta água antes das eleições que Berlusconi pode morrer de tédio e velhice", disse Umberto Bossi, líder da Liga Norte, o ex-aliado que derrubou o premiê.

*Com as agências internacionais

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