São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Poderes do presidente só ficam visíveis durante crise

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O papel de Oscar Luigi Scalfaro na solução de mais esta crise italiana mostra como pode ser nada decorativa a figura do presidente em um regime parlamentarista.
Desde a renúncia do seu governo, em 22 de dezembro, o empresário Silvio Berlusconi vinha pressionando Scalfaro pesadamente.
Berlusconi queria que Scalfaro o indicasse novamente para formar um governo ou então convocasse eleições gerais antecipadas.
O empresário dizia que fora dessas duas hipóteses não haveria saída para a crise. A indicação de outra pessoa para formar um governo não contaria com o apoio de seu partido, advertia Berlusconi.
Após realizar a ritual rodada de consulta a todos os partidos, Scalfaro chegou à conclusão de que a solução da crise não se encontrava nas mãos de Berlusconi.
Ex-democrata-cristão, católico dedicado, Scalfaro, 76, avaliou que o líder do partido com maioria relativa no Parlamento não conseguiria montar um novo governo, mas também julgou que seria precipitado convocar novas eleições menos de um ano após as últimas.
Scalfaro, assim, indicou um técnico, não filiado a qualquer partido e que nunca integrou o Parlamento, para formar o 54º governo do pós-guerra na Itália.
Por ironia, Lamberto Dini foi ministro da área econômica do fracassado governo Berlusconi.
Em sintonia com Scalfaro, Dini já anunciou que pretende montar um "governo de técnicos", acima dos partidos, o que pode lhe render apoios até da esquerda.
Se conseguir governar sem ceder às pressões por eleições já, e impedir a volta de Berlusconi ao poder, Dini vai consagrar Scalfaro como um dos mais sábios e habilidosos presidentes da Itália.
A primeira vitória, Scalfaro já conseguiu: o mercado financeiro reagiu bem à indicação de Dini.

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