São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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A ocupação do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas ocorrida nos últimos dois dias –a maior em termos de efetivo e equipamento– veio recolocar em evidência alguns graves problemas enfrentados pela Operação Rio.
Não parece haver dúvida, ressalte-se, de que a participação dos militares no combate ao tráfico e à criminalidade no Rio veio em boa hora, cumpre um papel importante e tem beneficiado a população. Como é mais do que óbvio, porém, nada disso exime as Forças Armadas de cumprirem a lei e respeitarem os direitos da população.
Lamentavelmente, acusações e episódios envolvendo diversos abusos têm surgido sem que as devidas providências tenham sido tomadas de forma cabal.
Alongando o rol de denúncias de detenções e buscas irregulares e mesmo de tortura, soldados do Exército agrediram jornalistas do "Jornal do Brasil" e tomaram o equipamento de um fotógrafo. Mais grave, diante desse caso gritante de arbítrio e violência, a reação militar foi a de tentar minimizar a flagrante arbitrariedade –como se respeitar o direito à informação, a liberdade de imprensa e a própria integridade física dos cidadãos fosse um detalhe menos importante.
Ao lado de graves problemas como esse, que maculam a ação militar e exigem reação enérgica das Forças Armadas, cresce a preocupação quanto às medidas estruturais necessárias para reverter o quadro de violência no Rio.
Como se sabe, boa parte da tarefa de combate ao tráfico é da alçada da Polícia Federal. Fuzis AR-15 e MAK-90, assim como boa parte da cocaína comerciada no Rio, não são produtos da indústria carioca ou mesmo brasileira. É desanimador assim constatar que os sinais são de que o governo não está dando a devida importância para a reestruturação da PF. Longe disso. Não chegou sequer a indicar o novo diretor do órgão.
O mais deplorável é que sem medidas de fundo como essa, como a reorganização das Polícias Civil e Militar do Rio, como a invasão de educação, saúde e cidadania dos morros e favelas fluminenses, não haverá melhoria consistente na violência que rasga a cidade maravilhosa. É hora de os governos estadual e federal começarem a se empenhar para que a população tenha mais do que apenas um alívio fugidio e momentâneo.

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