São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Passo mínimo

Mesmo antes da vitória de Fernando Henrique Cardoso, a 3 de outubro, uma frase de Sérgio Motta, o coordenador de sua campanha e hoje ministro das Comunicações, tentava passar a idéia das urgências que esperavam o futuro governo.
"Ou o governo consegue aprovar as reformas constitucionais no primeiro semestre de 1995 ou o Fernando Henrique deve renunciar", dizia Motta, com o exagero necessário para enfatizar a sua tese.
Entre esse sentimento de urgência e as duas primeiras semanas do novo governo há um extraordinário abismo. O governo dá a nítida sensação de que acredita ter todo o tempo do mundo pela frente.
É claro que não se pode julgar uma administração pelos seus primeiros 15 dias. Ninguém de bom senso poderia exigir uma revolução no país em tão pouco tempo.
Mas, ao menos, a sociedade tem o direito de cobrar uma mais clara definição das intenções do governo. Durante a campanha eleitoral, FHC lançou uma série de idéias que implicam reformas estruturais que vão mexer com a vida de todos e cada um dos brasileiros.
Não são propriamente temas inéditos. Há até virtual consenso de que o Brasil necessita de uma reforma tributária, por exemplo. Reconhece-se também que, sem rearranjo profundo, a Previdência quebra. Há ainda consenso de que a distribuição de funções e receitas entre a União, Estados e municípios precisa ser modificada. E há, por fim, um debate avançado sobre a questão dos monopólios estatais em áreas como energia e telecomunicações.
Mas, listagem à parte, o essencial são os detalhes. Nenhuma dessas reformas será feita sem que alguns setores percam e outros ganhem. E o governo deixou o tempo escorrer sem explicitar quais são as suas propostas. Por extensão, a sociedade organizada não pôde interferir na discussão sobre as reformas que vão atingi-la.
Esse passo mínimo poderia ter sido dado até antes da posse. Mas, logo depois dela, era obrigatório para ao menos suscitar o debate. Para quem imaginava um cenário à base de "seis meses ou o dilúvio", jogar meio mês fora parece muito.

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