São Paulo, segunda-feira, 16 de janeiro de 1995
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Nova cara na propaganda da República

FRANCESC PETIT

Alguns países aproveitam o fato de serem obrigados a fazer propaganda para comunicar as suas ações ou intenções, e fazem isto com bom gosto estético e conteúdo cultural. O que nós temos visto de Brasília, no que se refere às grandes campanhas feitas pelos ministérios ou pela própria Presidência da República, não tem nem pé nem cabeça. Foi uma comunicação sem efeito, sem impacto, sem resultados e, pior ainda, sem acrescentar nada à própria imagem dos governos passados.
Nunca houve uma oportunidade melhor para se dar uma "cara" à comunicação do governo federal, como no atual, formado por pessoas que na sua maioria conhecem o valor e o peso que isto tem para o país, esquecendo o passado quando tudo era feito nos moldes meramente políticos.
Isso não impede que o governo trabalhe livremente com aquelas agências que eles gostam e acreditam, talvez até capazes de criar uma linha visual e conceitual, mas que dificilmente poderão defender ou insistir em algo mais criativo, devido à necessidade maior de ter um excelente relacionamento comercial, como ocorreu anos atrás com a MPM, que teve tudo nas mãos para ter transformado a propaganda governamental em algo importante. Só que naquela época os negócios pesavam mais e o resultado é que hoje ninguém se lembra do trabalho que aquela agência fez durante tantos anos. Acho que, a exemplo de muitos países, como Alemanha, França, Polônia, ex-União Soviética, ex-Tchecoslováquia, Suécia, Inglaterra, Suíça, deveria-se aproveitar a propaganda governamental e transformá-la num marco cultural do país.
Tenho certeza que os atuais secretários e ministros da área estão cientes desses fatos que aqui coloco. Assim, já que o governo tem que gastar fabulosas verbas em propaganda, o que é ótimo para o negócio, por que não aproveita e faz isto bem-feito, criativo, novo, inusitado, vanguardista, e com um formato extremamente comunicativo a todas as áreas sociais?
Se de fato o Brasil mudou, e como diz o presidente "acabou a era do getulismo", o mesmo deve acontecer nas propagandas nas esferas federal, estadual e municipal, que são um verdadeiro horror e escárnio à profissão. Os profissionais brasileiros estão cansados de provar a sua competência. Agora é só confiar neles e, principalmente, em muitos artistas e designers gráficos, para que dêem uma cara moderna à comunicação do nosso país, tanto interna quanto externa. No entanto, desconheço quem neste país é capaz de levar adiante um projeto dessa envergadura.
Até diria que, profissionalmente, eu tenho tudo para esta tarefa, assim como o Marcello Serpa, Gabriel Zellmeister, Guto Lacaz, Mário Cohen, Oswaldo Miran, Walter Salles e muitos outros colegas cheios de talento. Mas também tenho consciência que seríamos derrotados logo de cara pela burocracia das verdades absolutas das autarquias. Daí a minha sugestão: entregar este trabalho a uma agência ou estúdio inglês, que poderia ser o John Hegarty, a Pentagram ou Leagas Delaney.
É como se o Brasil se resolvesse fabricar um carro brasileiro: a primeira coisa seria procurar um designer de carros italiano. Assim como quando nossas companhias aéreas desejam comprar os melhores jatos, vão a Boeing ou a Airbus Industries.
Se pegou a moda do carro importado, por que não fazer o mesmo com a comunicação do novo governo? Essa presença de criativos de fora não iria prejudicar em nada o bom andamento dos negócios das agências escolhidas pelo governo. Ao contrário, seria uma grande oportunidade de associar criatividade de textos e conceitos brasileiros com idéias e conceitos visuais ingleses...
Acho que um pessoal de fora morreria de tesão com um "job" desta envergadura. Além do mais, teria uma visão mais nova do Brasil, mais moderna, sem preconceitos, sem idéias pré-estabelecidas pela corrupção, pela miséria, pela fome, pelas injustiças sociais e por milhares de problemas que existem, mas que não devem conduzir a linha criativa da comunicação. Igualmente, as autoridades respeitariam mais esses profissionais, pelo simples fato de serem ingleses ou americanos e muito famosos mundialmente, pois como todos nós sabemos "santo de casa não faz milagre", mas pode fazer história...

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