São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995 |
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Morre o escritor Miguel Torga
JAIR RATTNER
Torga, autor de "Os Bichos" e "Orfeu Rebelde", é considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa do século. Desde dezembro, ele encontrava-se em estado terminal, recebendo injeções de morfina para aguentar a dor. Miguel Torga era o pseudônimo do médico otorrinolaringologista Adolfo Rocha. Em 1934, quando publicou seu primeiro livro, "A Criação do Mundo", escolheu o pseudônimo que o acompanhou por toda a vida: Miguel, em homenagem aos espanhóis Miguel de Cervantes, Miguel de Unamuno, Miguel de Molina e ao italiano Miguelângelo, e Torga, nome de um arbusto de sua região natal, Trás-os-Montes. Por causa do livro, um relato histórico, chegou a ser preso pela Pide, a polícia política da ditadura portuguesa. Nascido em 12 de agosto de 1907 na vila de São Martinho de Anta, Torga viajou aos 12 anos para o Brasil, onde morou em Minas Gerais. Quando voltou, passou um ano num seminário, desistindo de ser padre por ter pecado em pensamento. Durante anos, foi considerado o candidato português mais forte ao Nobel de Literatura. Em 1993, publicou o 16º volume de sua autobiografia, que chegava a 5.000 páginas. Em seus últimos anos, Torga já sentia a proximidade da morte. No "Diário", seu último livro publicado, escreveu em 1990: "Olho no espelho e não me reconheço. Sou uma caricatura de mim". No enterro de hoje, obedecendo a um pedido de Torga, não haverá cerimônia religiosa. Para o escritor José Saramago, a morte de Torga foi "um desastre". Em declarações a uma rádio portuguesa, Saramago apenas conseguiu declarar seu sentimento de impotência. Texto Anterior: Covas imita Jânio e faz visita surpresa Próximo Texto: Falta d'água atinge 500 mil hoje Índice |
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