São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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Taxa de juro é mais alta no Brasil do que no México

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O juro no Brasil ainda é muito maior do que o cobrado e pago no México e na Argentina. Detalhe: dos três, o Brasil é o menos afetado pela crise mexicana.
Os cálculos foram feitos a partir de títulos de 30 dias em moeda local. A taxa de juros foi anualizada e descontada uma projeção de inflação para o ano.
No México, as taxas andam na casa de 39% a 41% ao ano, contra uma inflação projetada de 25% –a inflação, em 1994, foi de 7%. O juro real estimado é de 12,8%.
Na Argentina, as taxas experimentaram uma explosão recentemente, mas já voltaram ao patamar anterior depois que o governo dolarizou as posições bancárias.
A taxa de juros é de 10% a 12% ao ano e a inflação projetada de 3,7% (a mesma do ano passado). A taxa real é de 8% ao ano.
No Brasil, com uma inflação projetada para o ano de 25%, os juros andam na casa de 45% a 50% ao ano. A taxa real é de 20% ao ano, mais do que o dobro da Argentina e ainda bastante elevada para o padrão mexicano.
No Brasil, o juro é como uma "vacina para não ficar doente; para os dois outros países é um remédio para não morrer", diz o economista do Banco de Boston, José Antônio Pena Garcia.
Garcia lembra, porém, que a trajetória das taxas é de queda no Brasil e de alta tanto na Argentina como no México.
"Mantidas as atuais condições de temperatura e pressão, o primeiro semestre será complicado no Brasil, ainda discutindo o ajuste fiscal no Congresso, mas a economia pode decolar já no segundo semestre. Lá fora, especialmente no México, a expectativa é de uma recessão."
João César Tourinho, do Banco Europeu, completa: "Os juros são muito mais altos no Brasil porque o consumo anda muito aquecido. No México, ao contrário, a taxa fica mais baixa até para não inibir o consumo. Houve uma perda de renda enorme com a desvalorização do peso e a economia está em recessão."
Garcia afirma que é impossível saber agora qual foi o impacto efetivo da desvalorização do peso mexicano nos índices de inflação. Mesmo que a taxa anual feche, como espera o mercado, na casa dos 25%, certamente ela será maior neste primeiro trimestre do ano (o que faria o juro real ficar ainda menor).
Nos títulos expressos em dólar, o México já está pagando mais caro que o Brasil: um juro de 20% ao ano (já foi de 10%) contra 15%, respectivamente. Na Argentina, a taxa é de 8% ao ano.
O número muito mais baixo na Argentina não significa necessariamente, porém, que, para os investidores estrangeiros, o risco daquele país seja menor que o do Brasil. A taxa mais baixa pode estar apenas refletindo a expectativa de mudança no câmbio, especialmente na paridade dólar/peso.
Garcia diz que, hoje na Argentina, "o fator político está predominando sobre o fator econômico". As eleições presidenciais estão marcadas para maio.

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