São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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Exibição de filme sobre neonazismo gera processo contra o organizador

DA REPORTAGEM LOCAL

O crítico de cinema Leon Cakoff, organizador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, poderá ser indiciado sob acusação de racismo, pela exibição do filme "Profissão Neonazista", na 18ª Mostra, em outubro último. O escritor e jornalista Ben Abraham, vice-presidente da Associação Mundial dos Sobreviventes do Nazismo, entrou com uma denúncia contra o filme na Delegacia Especializada de Crimes Raciais.
Segundo o delegado-titular Maurício José Lemos Freire, o artigo 20 da lei 7716 sobre preconceito racial prevê reclusão de dois a cinco anos para quem promove a divulgação de material de cunho racista. O inquérito foi instaurado com base na denúncia de Abraham, e Cakoff foi chamado a depor na delegacia, onde esteve no último dia 6.
O delegado pediu ao Consulado da Alemanha que mande o filme de volta ao Brasil para ser avaliado por uma equipe técnica. Segundo ele, "é difícil dar o parecer". "Queremos um laudo técnico, só um perito na área poderá dizer se o filme faz ou não propaganda neonazista, já que as duas partes envolvidas têm a sua verdade", diz o delegado Freire.
Segundo Cakoff, este é "outro caso de censura". O diretor da mostra chamou para defendê-lo o advogado Célio Rodrigues Pereira, o mesmo que moveu um processo contra a União, em 1985, época da 9ª mostra para acabar com a censura prévia dos filmes.
"Se a cada fim de festival, um grupo étnico resolver implicar com um filme estamos perdidos", diz Cakoff. Segundo ele, Ben Abraham não entendeu o filme e processos como este podem virar uma "inquisição".
Cakoff diz que o alemão Winfried Bonengel, diretor de "Profissão Neonazista", vive exilado na França justamente porque teme perseguição dos neonazistas. O crítico disse ainda que a mostra é responsável pela exibição em São Paulo de "A Arquitetura da Destruição", "o maior filme antinazista". Cakoff diz que pretende abrir um processo por calúnia e difamação contra Abraham.
Para o escritor Ben Abraham, o filme é "uma propaganda nazista bem-feita". "O filme mostra até o endereço para onde se pode mandar dinheiro no Canadá para ajudar os neonazistas", diz Abraham.
Ele escreveu um artigo na revista "Shalom" contestando outro artigo, publicado na mesma revista pela crítica Rochelle Saidel que defendia o filme. No texto, Abraham escreve: "Passados 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, os protagonistas do neonazismo adotam métodos cada vez mais sofisticados para propagar as teses contidas no livro 'Mein Kampf' de Adolf Hitler."

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