São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Governo une academia e gerência privada

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Por mais que o novo governo abrigue uma coleção de intelectuais e acadêmicos, dificilmente alguém imaginaria que a palavra catálise pudesse ser usada para definir a função de um de seus principais integrantes.
Mas é exatamente assim que se vê o paulista Clóvis Carvalho, 56, chefe do Gabinete Civil e que aceita gostosamente a qualificação de gerente-geral do Planalto S/A na nova configuração do poder.
Catálise é, segundo o Aurélio, a "modificação (em geral, aumento) da velocidade de uma reação química pela presença e atuação de uma substância que não se altera no processo".
Carvalho faz esse papel, mas as reações que imagina provocar não são, obviamente, químicas e sim políticas e administrativas.
Esse novo estilo, que mescla elementos típicos do setor privado a outros próprios da academia, levam o novo Palácio do Planalto a anos-luz de distância do ambiente caseiro, quase simplório, dos tempos de Itamar Franco. Se para o bem ou para o mal, ainda é muito cedo para se saber.
Até porque o estilo inclui o uso frequente, quase abusivo, da palavra "processo".
Processo significa atuar passo a passo, o que inviabiliza resultados de curto prazo e mais ainda o grande espetáculo que marcou o início de gestões anteriores.
A face empresa privada do novo Planalto tem como eixo exatamente Clóvis Carvalho.
Ele não é apenas um catalisador, mas também um anteparo, que evita que cheguem ao presidente assuntos tidos como menores, e ainda tenta fazer com que as decisões adotadas sejam cumpridas.
O presidente Fernando Henrique Cardoso aprendeu de dois de seus antecessores (José Sarney e Itamar Franco) que o governo tem uma enorme dificuldade para fazer com que suas decisões desçam por toda a estrutura hierárquica.
Tem também um problema crônico de descoordenação, o que leva a truques. Na gestão Itamar, FHC notou que alguns ministros levavam ao presidente o que o próprio FHC chama de "prato feito". Medidas prontas e acabadas, mas nem sempre corretas ou coerentes com outros planos governamentais.
O presidente, como é óbvio, não pode entender de todos os assuntos o suficiente para detectar incoerências ou inconveniências.
Aí é que entra o gerente Clóvis Carvalho, chefe do Gabinete Civil. Tudo, a rigor, vai passar antes pelo crivo desse ex-diretor das Indústrias Villares, nas quais adquiriu a experiência de administrar tempos difíceis.
Foi diretor justamente no processo de enxugamento da empresa.

Eduardo Jorge
Mais "low profile" do que Carvalho, é outra das figuras fundamentais do novo Planalto. Chama-se Eduardo Jorge, 52, cearense de Baturité, secretário-geral da Presidência.
Mais do que isso, Eduardo Jorge é a memória do novo poder. FHC também descobriu, espantado, que ninguém anotava o que se discutia nas reuniões do governo, exceto no Itamaraty.
Por isso, é sempre possível que um tema discutido entre vários ministros, hoje, volte a uma nova rodada de conversações, sem que se saiba exatamente o que fora decidido na primeira.
Eduardo Jorge supre essa lacuna, ao menos nos encontros mais amplos do presidente.
Trata-se de um burocrata atípico, se se associar a imagem do funcionário público à ineficiência e ao despreparo. Nos dez anos que FHC passou no Senado, Eduardo Jorge era o guardião fiel e implacável do trabalho legislativo do chefe.
Conhece tão bem os meandros do Legislativo que foi mais de uma vez convidado para assessorar parlamentos de países de democracia incipiente, como os centro-americanos, na montagem de Congressos que sejam mais do que ornamento.
Eduardo Jorge, como é óbvio, só não faz anotações nos encontros a dois ou nos telefonemas que FHC troca (mais recebe do que faz ligações).

ACADEMIA PLANALTO S/A
Quem tem ligação direta com FHC
1. EDUARDO JORGE, 52, secretário-geral da Presidência
É a memória do poder. Anota tudo o que se diz nas reuniões que não sejam a dois.
2. MARCO MACIEL, 54, vice-presidente
É o homem das audiências públicas, em especial das miudezas que FHC desdenha.
3. JOSÉ SERRA, 52, ministro do Planejamento
É o outro tucano, que não se bica, aliás, com o Tasso. Mas não fala só de política com FHC, também de economia.
4. CLÓVIS CARVALHO, 56, chefe da Casa Civil
É o grande gerente do governo. Coordena tudo, faz a triagem prévia de tudo que o presidente deve decidir, cobra tudo dos demais ministros.
5. LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, 39, atual líder do PFL e mais forte candidato à presidência da Câmara.
É a grande estrela em ascensão na nova corte.
6. TASSO JEREISSATI, 45, governador do Ceará
É , dos líderes tucanos, o mais frequente interlocutor do presidente.

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