São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Déficit se aproxima dos US$ 30 bilhões

JOSIAS DE SOUZA ; GILBERTO DIMENSTEIN

Documento do governo diz que estatais terão de cobrir rombo e detecta investimentos de retorno duvidoso
JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
GILBERTO DIMENSTEIN
Diretor da Sucursal de Brasília
Os fundos de pensão de empresas estatais estão com um rombo potencial de US$ 30 bilhões. O valor daria para pagar aposentadorias de um salário mínimo (US$ 82,50) a 30,3 milhões de brasileiros durante um ano.
A informação sobre o déficit consta de documento oficial do próprio governo, repassado ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Constatou-se que os fundos realizam vários investimentos de retorno financeiro duvidoso.
Há inclusive um caso, considerado absurdo, do fundo Braslight, dos funcionários da Light, que comprou 2.000 covas. A compra foi feita há 12 anos.
Como as covas ainda não foram utilizadas, o fundo é obrigado a pagar taxas de manutenção. O valor gasto daria para comprar mais 4.000 covas.
Os técnicos do governo argumentam que, se a administração dos fundos de pensão não for "profissionalizada", o rombo de US$ 30 milhões, por ora apenas potencial, terá de ser coberto, no longo prazo, pelas estatais.
Partindo-se do raciocínio de que as estatais constituem patrimônio público, em última análise, o buraco será tapado pelo contribuinte brasileiro.

Insuficiência
"Uma avaliação realista das entidades ligadas às empresas estatais mostra insuficiência de capitalização para fazer face às suas necessidades de longo prazo", diz um trecho do documento entregue ao presidente da República.
Preparado pelo Ministério da Previdência, o relatório apresenta como evidência do déficit "o fato de que as estatais privatizadas tiveram o valor de suas ações consideravelmente depreciado em decorrência do passivo atuarial de seus fundos".
Os arquivos do governo armazenam vários exemplos de prejuízo. Um deles: ao ser vendida, a Usiminas sofreu uma depreciação de US$ 270 milhões.
Criados para complementar as aposentadorias dos funcionários das estatais, os fundos de pensão públicos se agigantaram nos últimos anos.
Hoje, o patrimônio dos dez maiores fundos de pensão estatais é de US$ 22,4 bilhões.
O caixa dos fundos é alimentado por contribuições mensais dos empregados e da empresa patrocinadora –na maioria dos casos, as empresas pagam cerca de duas vezes mais do que os funcionários.
O dinheiro é aplicado no mercado de ações, na compra de imóveis e de títulos do governo. Para assegurar a aposentadoria de seus contribuintes, é essencial que os fundos apliquem bem esses recursos.
O ativo elevado protege os fundos de problemas imediatos de caixa.
Mas uma projeção atuarial de seus gastos, levando-se em conta as aposentadorias que terá de pagar no futuro, levou o governo a prever o rombo de US$ 30 bilhões.

Texto Anterior: Poderes devem ser reduzidos
Próximo Texto: Há 2 tipos de aposentadoria
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.