São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Ibirapuera colapsa nos finais de semana

MAURICIO STYCER; ANTONIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Zélia Brasilina Cabral, 41, realizou no último domingo um sonho que alimentava há 16 anos, desde que se mudou do interior para São Paulo: conhecer o parque Ibirapuera.
"Na televisão ele é muito mais bonito", disse Zélia, mal impressionada com o lixo espalhado.
Zélia pegou um ônibus em Campo Limpo (zona sul de SP) e viajou 40 minutos até o parque, acompanhada de filhos, netos e sobrinhos, num total de 12 pessoas, para fazer um piquenique.
No cardápio, frutas, bolos, refrigerantes e farofa. "Somos farofeiros mesmo", diz, satisfeita.
Como Zélia, cerca de 180 mil pessoas visitaram o parque no último domingo, contribuindo para o colapso de sua estrutura.
Os banheiros viraram "piscinas" de lama. O lixo tomou conta de gramados inteiros. Pessoas enfrentaram filas de 15 minutos para comprar refrigerantes e sorvetes.
Antes do fechamento da USP aos domingos, a frequência dominical ao Ibirapuera oscilava em torno de 130 mil pessoas, um número já considerado excessivo pelo administrador do parque, Paulo Camarero.
Na opinião de Camarero, a tendência é a situação piorar nos finais de semana. "Mais e mais pessoas vão ao Ibirapuera. É preciso mostrar à população que São Paulo tem outros parques agradáveis."
Não é o que pensa, por exemplo, o professor de português Valter Barbosa dos Santos, que há oito anos se despenca, todo domingo, de Santo Amaro, no extremo da zona sul, até o Ibirapuera.
"Só aqui eu encontro tanta gente descontraída", diz Santos, que participa de uma aula de aeróbica no meio do parque, sob um sol de rachar catedral, vestindo calça jeans e camisa xadrez.
O calor que não incomoda Santos enlouquece a modelista cearense Iris Martins, 28. De biquíni, à beira do lago do parque, ela lê "A Outra Face", de Sidney Sheldon, e reclama de saudades da praia.
"Vim ler um pouco, deu vontade de tomar banho, tirei a roupa e deitei. Só que fica todo mundo olhando. Falta uma área reservada para banho", diz Iris. Ela é de Fortaleza e está em São Paulo há oito meses.
O advogado Rogério Chaves, 30, vem de mais perto, de Bauru (345 km a noroeste de SP), mas também sofre as consequências do calor e da superpopulação.
"Faltam mais lojas no parque", diz, situado no fim de uma fila de 30 pessoas para comprar sorvetes para os filhos.
É difícil se satisfazer aos domingos no Ibirapuera. "Estou tentando estudar, mas está difícil. Muito barulho", diz a psicóloga Cristina Dala, 27, deitada sob embaixo de uma árvore.
(MSy e ARF)

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