São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Política cambial reforça alta dos juros

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O Banco Central forneceu na semana passada indicações suficientes de que não irá reduzir a taxa-over da faixa de 4,48% definida no dia 11.
Se a política monetária dependesse somente da inflação, poderia baixar o juro primário. A previsão mais frequente do mercado é de um IPC-r aquém de 1,5%.
Mantidos os 4,48% até o final do mês, o over acumulará rentabilidade efetiva de 3,38% e pagará alentado juro real de 1,85% ao mês ou 24,6% ao ano.
Mas o vai-e-vem da inflação é hoje apenas uma das variáveis da política monetária. E, na prática, a política monetária está condicionada pela cambial.
O juro precisa ficar alto para impedir fuga de capital estrangeiro e estimular os exportadores a antecipar o câmbio. O governo voltou a perseguir os superávits na balança comercial. Não quer que se repita o déficit de dezembro, o maior da história.
Em janeiro e fevereiro ainda haverá déficits. Entretanto, eles serão menores. Mas o volume de ACC que vem sendo fechado atualmente autoriza a crença de um superávit em março.
Os juros ficarão elevados por meses se prevalecer a tese defendida pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, de obtenção de um déficit abaixo de 2% nas contas correntes do balanço de pagamentos.
Para viabilizar a meta será necessária a atração, este ano, de US$ 8 bilhões. O juro real deveria, nesta hipótese, ser mantido ao redor de 25% ao ano, para tornar o Brasil competitivo em relação ao México (juro real de 13%) e à Argentina (8% ao ano).
Essa política de elevado juro real favorece todas as modalidades de aplicação em renda fixa, com destaque para o CDB prefixado de 30 dias. Ele ocupa hoje o centro das dicas dos analistas. Está atraindo inclusive investidores tradicionais dos fundos de renda fixa e de commodities, cuja rentabilidade está abaixo da média do papel.
Os CDBs já embutem a alta nominal do over prevista para fevereiro. A taxa por dia útil vai passar de 0,1547% para 0,178%, segundo projeção do DI futuro, por causa da diferença de dias úteis (22 em janeiro e 18 em fevereiro).
A taxa efetiva do over, porém, será menor. Ainda conforme o DI: 3,46% em janeiro e 3,26% em fevereiro.
Quanto mais dias úteis o CDB tiver no mês que vem, maior será a promessa de ganho. Afora esse detalhe técnico, os juros do pré são os melhores porque, face à crônica falta de liquidez do mercado interbancário, os CDBs são uma das fontes primordiais usadas pelas instituições para captar reais.
A taxa-over do pré fixou em 5,14% na sexta-feira, acima dos 5,09% estimados para o CDI-Over no mesmo período. Os fundos de commodities e de renda fixa estão apresentando ganho diário ao redor de 0,14%, bem abaixo da taxa do CDB, 0,17%.

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