São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Bancos aumentam as tarifas em 41%

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos aumentaram em 41% as tarifas de seus serviços no terceiro trimestre de 94 contra o mesmo período do ano anterior. A conclusão é de estudo da EF&C (Engenheiros Financeiros & Consultores).
Mas, segundo a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), ainda há espaço para novas cobranças.
A majoração das tarifas é uma política que tem como função compensar parte da perda do chamado ganho inflacionário.
Com a inflação na casa de 1% ao dia, o que prevalecia antes do Plano Real, os bancos não precisavam cobrar por seus serviços de forma explícita dos clientes.
O ganho propiciado pela inflação cobria os custos para a realização da operação (um depósito ou uma aplicação, por exemplo), com folga. Em 1993, os ganhos inflacionários dos bancos somaram US$ 9,2 bilhões.
Na comparação entre o terceiro trimestre de 94 e o mesmo período de 93, as receitas inflacionárias reduziram-se em 68%, passando de R$ 802,4 milhões para R$ 260,7 milhões.
Esta queda é a principal responsável pela redução de 28% do lucro líquido dos bancos.
A elevação das tarifas fica evidente na comparação entre a receita obtida com a cobrança e a folha de salários (inclusive dos encargos trabalhistas) do sistema.
No terceiro trimestre de 94, segundo os números dos balanços trimestrais de nove bancos analisados pela EF&C, as tarifas já correspondiam a 44,8% do que os bancos gastam com pessoal, contra 33,12% do ano anterior.
Mas, apesar do crescimento, as tarifas ainda representam apenas 25% do ganho anteriormente propiciado pela inflação.
Segundo Carlos Coradi, presidente da EF&C, "não há possibilidade de se compensar a perda dos ganhos inflacionários exclusivamente com a alta das tarifas".
Este objetivo só seria alcançado se as receitas das tarifas fossem multiplicadas por quatro e "os preços não podem subir indefinidamente. Ninguém vai pagar R$ 5,00 para ver seu saldo."
Até porque, lembra o consultor, o sistema bancário é muito competitivo e um exagero nas tarifas pode implicar perda de clientela.
Coradi diz que os bancos estão procurando compensar a perda com o aumento das tarifas e dos spreads –que é a diferença entre o juro pago ao aplicador e o cobrado nos empréstimos.
Para Coradi, depois da elevação de 41% existe muito pouco espaço para novos reajustes das tarifas.
A opinião não é compartilhada pela Febraban. Para Jorge Higashino, diretor da federação, os bancos prestam um serviço à comunidade e precisam ser ressarcidos em seus custos.
Este processo de troca do ganho inflacionário, que funcionava também como uma cobrança camuflada, por tarifas explícitas "não bateu no seu limite de jeito nenhum", completa.
Higashino cita exemplos. Diz que os bancos são pagos pela Previdência para executar a tarefa de pagar pensões e aposentadorias, mas não recebem ainda pelos pagamentos recebidos para concessionárias de serviços públicos.
Somente em alguns lugares do país os bancos são ressarcidos por receberem o pagamento das contas de telefone. Mas ainda inexiste acordo no setor de energia elétrica, gás encanado, esgoto e água.
"Os bancos têm de ser remunerados por estes serviços. O fato de eles prestarem este serviço significa uma economia, uma redução de custos, para as empresas."
Higashino diz que a Febraban defende a total liberdade para a cobrança ou não de tarifas e considera "um absurdo" a resolução número 1.568 do Banco Central que veda aos bancos a cobrança de uma série de serviços prestados.
"Os bancos, por exemplo, não podem cobrar pelo primeiro talão de cheques de 20 folhas. Isto não existe em lugar nenhum do mundo", afirma.
Higashino diz que cada talão custa, entre feitura, distribuição e compensação, R$ 20,11 e lembra que existem no Brasil 45 milhões de contas-correntes.

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