São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Racismo permanece em várias escolas

FERNANDO ROSSETI
DO ENVIADO ESPECIAL

"Somos cegos para cor", disse aos novos alunos, em inglês e africâner, o diretor da Escola Primária Melpark, Wilhelm Badenhorst, na abertura do ano letivo, dia 11.
A afirmação é emblemática da atitude da maioria das escolas antes "brancas", situadas em bairros também "brancos" dos centros urbanos como Johannesburgo.
Ser racista tornou-se, desde o ano passado, um tabu na maior parte da África do Sul e os casos de discriminação aberta estão concentrados em poucas áreas.
Na região de Johannesburgo e Pretória, 20 escolas sofreram investigação por acusação de racismo. A maioria já suspendeu exigências que vinham fazendo para evitar a entrada de negros, como cobrar matrículas proibitivas.
Nessa região, não se encontra um diretor de escola que assuma abertamente que não aceita alunos negros. O problema é, segundo os diretores, de vagas, já que a maior parte das classes é reservada a alunos que falam africâner –a língua do apartheid.
O caso mais aberrante de Johannesburgo ocorreu na Escola Primária Suidheuwels, que estava exigindo testes de Aids aos candidatos negros. A escola pediu desculpas e suspendeu a exigência.
Houve escolas que diziam que tinham vagas se o pai era branco e que as vagas estavam esgotadas se o pai era negro (o sobrenome dos pais indica a cor da pessoa).
O problema maior hoje é com as escolas em regiões antes "negras". Uma escola "padrão" de Soweto tem vidros quebrados, carteiras velhas e mato em vez de campo. As escolas estatais "brancas" têm a infra-estrutura de bons colégios particulares brasileiros.
Na região do Cabo, o problema é de vagas para os negros. "De volta à escola no caos", diz o título da reportagem do "Weekly Mail & Guardian", semanário nacional da África do Sul.
Enquanto em Gauteng (região de Johannesburgo e Pretória) a indicação foi de as escolas aceitarem tantos alunos quanto fosse a procura –o que resultou em classes com até 70 alunos–, a secretaria de Educação da Província do Cabo Ocidental limitou a 40 o número de alunos por classe.
Não há dados do número de alunos sem escola –assim como não há indicadores razoáveis sobre o sistema educacional sul-africano. Mas as televisões do país mostraram cenas de alunos negros chorando por não terem aonde estudar.
(FR)

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