São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Encerrada uma disputa de 20 anos por tesouro

The Independent
De Londres

TIM MCGIRK
EM NOVA DÉLI

O nababo de Hyderabad foi um dos homens mais ricos –e dos mais avaros– do mundo. Já se disse que ele colecionou pérolas suficientes para pavimentar o Piccadilly Circus, de Londres.
Agora, após uma disputa legal de 20 anos, o governo da Índia comprou o tesouro do nababo (título nobiliárquico indiano) de seu herdeiros pelo equivalente a R$ 59 milhões, apesar de especialistas avaliarem as jóias em pelo menos cinco vezes mais.
Assim que os cheques foram emitidos para os 22 herdeiros vivos na quarta-feira, a coleção foi retirado do cofre de um banco de Bombaim, onde permaneceu, intocado e nunca visto, 44 anos por causa das disputas judiciais.
Daí foi transportado para Nova Déli num avião especial com cem seguranças. Ele será colocado em exposição num museu de Hyderabad, rivalizando-se, segundo alguns jornais indianos, com as jóias da coroa britânica guardadas na Torre de Londres.
A mais notável jóia da coleção de 173 peças é o diamante Jacó, do tamanho de uma ameixa. O último nababo usava esse diamante de 184 quilates, que se acredita ser o terceiro maior do mundo, como um simples peso para papéis.
Também estão no tesouro desse monarca muçulmano, cujo reino cobria o atual Estado de Andhra Pradesh (sudeste), 22 esmeraldas grandes e perfeitas, um par de braceletes de ouro com cerca de meio quilo decorados com 270 diamantes que foram dos czares russos.
Um único colar tinha mais de 370 pérolas. Dizia-se que nababos anteriores tinham o hábito de adornar escravos com esses colares para que os óleos de seus corpos dessem um brilho extra às pérolas.
Esses fetichismos epicuristas eram estranhos ao sétimo e último nababo, Osman Ali Khan, que preferia comer de um prato de lata, apesar de ter à disposição um faqueiro de ouro para cem pessoas.
As autoridades que o visitavam recebiam uma xícara de chá, um biscoito e um cigarro. Nada mais. Ao saírem, sua alteza recolhia sobras dos cigarro e as fumava.
O nababo, que morreu após a independência, e seus vários herdeiros foram proibidos de remover a coleção da filial de Bombaim do Hong Kong and Shanghai Bank pelo governo indiano, que a considerou um patrimônio nacional.
O nababo, que resistiu à incorporação de seu reino à Índia, foi proibido de vender as jóias da família ou de retirá-las do país.
A disputa legal pela herança durou tanto tempo que quase metade dos beneficiários legais envelheceu e morreu. Finalmente, a Suprema Corte decidiu em 1988 que a disputa deveria ser decidida por uma espécie de árbitro.
Os leiloeiros Sotheby's e Christie's foram chamados e avaliaram o tesouro em aproximadamente R$ 335 milhões em 1991, segundo jornais indianos. Mas o governo de Nova Déli insistiu que só valia cerca de R$ 20 milhões.
Com os negociadores indianos demonstrando avareza equivalente à do velho nababo, a Suprema Corte deu prazo até segunda-feira passada para que o governo apresentasse uma oferta razoável.
Caso contrário, os herdeiros do nababo estariam livres para vender as jóias fora da Índia.
Apenas cinco dias antes do vencimento do prazo, o governo indiano atualizou sua oferta e os poucos descendentes do nababo ainda vivos poderão finalmente desfrutar sua riqueza.

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