São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Parentes inspiram novelistas no batismo dos personagens

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para que um personagem caia no gosto do público, não basta ser simpático. Tem que ter um nome marcante. E para batizar cerca de 50 personagens a cada novela, o autor é obrigado a exercitar a imaginação e, principalmente, a memória.
São nos parentes e nos velhos amigos que os novelistas buscam grande parte de sua inspiração.
Sílvio de Abreu, atualmente escrevendo sua décima novela, "A Próxima Vítima", põe sempre nomes de parentes. "Procuro não repetir, mas não dá."
Para a nova trama, conseguiu encontrar um nome inédito em sua árvore genealógica: Zé Bolacha.
"É o apelido de um tio que morreu há uns dez anos. Ele era chofer de caminhão". O personagem, escrito para Lima Duarte, será também caminhoneiro.
Em "Guerra dos Sexos", Abreu criou Otávio –que também respondia por Bimbo– para Paulo Autran. "Nome e apelido idênticos aos de um tio de minha mulher", diz.
Também Benedito Ruy Barbosa buscou ajuda na estirpe. A Juma de "Pantanal" é o apelido de uma prima dele.
O autor Walter Negrão não se importa com repetições. "Gaspar é um nome que sempre dá muita sorte para mim", diz. Seu último Gaspar foi Francisco Cuoco em "Tropicaliente".
Carlos Lombardi, autor de "Quatro pro Quatro", aproveitou-se de um casal de amigos em "Perigosas Peruas". "Eles se chamavam de Téio e Téia. Achei irresistível", conta.
Homenagens também são formas de inspiração. Abreu, maníaco por cinema, batizou de Ana (Suzana Vieira) a heroína de "A Próxima Vítima" por causa da atriz italiana Ana Magnani. José Wilker será Marcelo, em reverência a Mastroianni. Fernanda Montenegro fará Romana. "É uma homenagem carinhosa a ela, que se chamou Romana no filme 'Eles não Usam Black-Tie'. Isso cria cumplicidade, mostra que conhecemos sua carreira".
Lombardi encontrou na música o nome de um de seus últimos sucessos: "É um bolero que fala de uma mulher chamada Babalu. Só precisei de um nome e sobrenome que casassem, Barbarela Lourdes".
Raí (Marcelo Novaes) foi batizado assim porque Lombardi escreveu a novela durante a Copa. Já Alcebíades mistura pretensão com ridículo, "além do alce ser chifrudo".
Negrão tem fixação por apelidos. "Mas para vilões, o nome tem que ser duplo, como Sérgio Santarém ou Vitor Velasquez", ensina.
Alguns nomes acompanham o perfil do personagem. É o caso de Açucena (Carolina Dieckmann) de "Tropicaliente". "Açucena é o nome de uma flor e, além disso, rima com ingênua", diz Negrão.
O autor também já passou por mudanças de última hora: "Em 'Tropicaliente' criei um Floriano para contracenar com Carla Marins. Mas o pai dela, chamado Floriano, tinha morrido há poucos meses. Mudei então para Cassiano, em homenagem ao Gabus Mendes".

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